Folha de S. Paulo


'Universidade confunde processo eleitoral com participação e igualdade', diz leitora

Sempre me espanta a equivocada ligação que alguns gostam de fazer sobre a democracia nas universidades brasileiras e a participação nas decisões e, mais ainda, com a incapacidade das gestões não eleitas de "ouvir o chão de fábrica" como citou Vladimir Safatle em seu artigo sobre a "Democracia na USP".

Esses não são argumentos para justificar uma maior participação de alunos e funcionários, e mesmo de professores, nas eleições dos cargos universitários diretivos. É perfeitamente possível (e isso ocorre nas melhores universidades do mundo que não elegem "democraticamente" seus reitores) que uma gestão crie mecanismos de ausculta sobre questões importantes que inclua, até, toda a comunidade acadêmica, em especial usando as modernas tecnologias que tão bem se prestam para o envolvimento das pessoas, inclusive para melhorar a comunicação em todos os níveis.

Entretanto, diferente do que ocorre no governo dos países, uma universidade deve ser regida pela meritocracia e a eleição pode, ao contrário do que apontou o articulista, priorizar questões que atendem à maioria (usando seu próprio exemplo, aos alunos de graduação nos casos que lhes interessem), mas que não são, necessariamente, as melhores ou mais adequadas aos planos institucionais.

Ouvimos de diversos reitores (até de IES privadas Comunitárias que fazem eleições diretas) que nem se pode rediscutir a forma de escolha de dirigentes, apesar dos problemas que todos encontram nesse sistema, pois só o levantamento desta discussão inviabilizaria a permanência de quem ousou debater tal tema! Isto está longe de ser democrático e chega a ser demagógico e autoritário, atrasando, como se vê, o desenvolvimento de nossas universidades em relação às melhores do mundo.

A qualidade da tomada das decisões numa universidade é mais importante que a sua forma e já passou a hora de certos tabus serem debatidos civilizadamente, algo que só a liberdade acadêmica pode garantir, mas para isso ela precisa ser largamente protegida, o que está distante de acontecer em comunidades que confundem processo eleitoral com participação e igualdade - que podem existir até mesmo quando se permite escolher dirigentes externos à universidade, o que aqui ainda é visto como uma aberração!

Além de se internacionalizarem, nossas universidades precisam aprender muito com as melhores do mundo, se quisermos ultrapassar a pequena esfera dos países da América Latina.


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