Folha de S. Paulo


Leitores opinam sobre atual situação da educação no Brasil

Não concordo com a opinião de Hélio Schwartsman em "Reprovando a repetência".

Tenho 32 anos e sou professora concursada com dois cargos (manhã e tarde) na Prefeitura de São Paulo há 3 anos. Eu e meus colegas sentimos na pele, dia após dia, o quanto é difícil lecionar para alunos que não querem aprender. Isso mesmo! Grande parte dos nossos alunos recusam-se a aprender! E usam o "eu não vou repetir mesmo" para "acabar" com a aula dos professores com enorme indisciplina, falta de respeito e violência entre os colegas de sala e também contra os professores. Vão para a escola apenas para garantir às famílias o recebimento de programas como o "Bolsa Família" e o "Leite", além de material escolar gratuito e uniforme completo.

Eu e meus colegas convivemos com a precariedade da região onde lecionamos, a Cidade Tiradentes. Sabemos das dificuldades financeiras, das moradias em áreas de risco, e da nova formação das famílias, compostas muitas vezes de avós, padrastos, madrastas etc. Mas nada justifica a falta de interesse familiar na vida escolar da maioria dos nossos alunos. Estamos nós, "educadores", de mãos atadas, mal remunerados, mal amparados, abandonados à própria sorte!

E ainda somos obrigados a ler e ouvir "soluções" de muitos teóricos e estudiosos que nunca entraram numa sala de aula de escola pública, composta de 35 alunos, com os mais variados níveis de aprendizagens; crianças que não conseguem se alfabetizar (mesmo com o reforço no período contrário, oferecido gratuitamente pela prefeitura); alunos com vários tipos de deficiências (e ainda querem acabar com as Apaes); alunos indisciplinados, dentre outros problemas que enfrentamos em todas as séries, sozinhos!, sem nenhum professor assistente ou estagiário que nos auxilie a aplicar nossos planos diferenciados, e quase que individualizados, que preparamos visando a inclusão de todos os alunos!

Culpar o professor que pede "socorro!" é fechar os olhos para uma área, que assim como a saúde e a segurança, é vital para que um país se desenvolva!

Há muito o que discutir ou falar sobre a educação! Eu tenho esperanças de que o Brasil um dia ainda será o país do futuro! E que, talvez, a repetência na escola volte para abrir os olhos dos estudantes e de suas famílias para o fato de que a educação deve, sim, ser mais importante do que o futebol no nosso país!

MICHELLE CAROLINE BERNARDES DOS SANTOS Mogi das Cruzes (SP)

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Concordo plenamente com Hélio Schwartsman quando ele aborda algumas desvantagens do sistema de reprovação no ensino fundamental. O problema é polêmico e não para por aí. A situação é semelhante também em todas as séries do 2º grau por falta de bases anteriores. Existem muitos intelectuais e pensadores competentes sobre este tema com opiniões bem fundamentadas, mas não existe um consenso sobre o assunto. O resultado é que há um emaranhado de cultura tumultuada. No final das contas, tais conhecimentos valiosos se perdem no imbróglio de posições.

Uma solução para a educação básica no Brasil é um tratamento sistêmico cujo órgão central seria o Ministério da Educação, ao qual submeter-se-iam as secretarias estaduais e municipais de educação. Tal situação seria solucionada com a elaboração de uma PEC.

Muitas outras situações adversas seriam apresentadas, tais como a diversidade regional brasileira, dificuldade com a certa autonomia estadual e municipal para adaptação à cultura local.

Com um planejamento centralizado e a execução descentralizada, haveria espaço para os currículos regionais.

Os assuntos e os currículos seriam profundamente reformados para que um sistema misto fosse adotado. Teríamos um sistema de progressão continuada para matérias não tão importantes para a faixa etária (arte, história, geografia, ciências, dentre outras). Tais matérias seriam ensinadas com meios auxiliares de ensino ou palestras cuja condição de aprovação seria a presença nesses eventos.

Nesse tipo de aula, inicialmente os alunos assistiriam um vídeo, por exemplo, com duração de 10 a 15 minutos, após o que o professor estaria em condições de debates, responder a perguntas e dúvidas sobre o assunto apresentado. As matérias que fossem alvo de reprovação seriam, por exemplo, no ensino fundamental, matemática, português, e outras, a critério de equipes de pedagogos.

Com esses parâmetros, poderíamos considerar a hora-aula com 40 minutos, aumentando desta forma a quantidade de horas-aula para um determinado período letivo.

Há muito trabalho pela frente. Sem determinação, ficaremos patinando neste tema tão importante para o futuro do Brasil.

Esta é, aparentemente, uma solução simplista. Mas seria a base da organização da educação no Brasil.

MAURO PELOSI Niterói (RJ)

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