Folha de S. Paulo


Autismo é um "aprendizado inesperado" na maternidade, relata leitora

Aprendi com meu filho Otávio que gosto muito do silêncio. Silêncio para pensar, me escutar e entender.

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Preciso pensar no porquê a vida é tão sinuosa e intrigante. Por que tantas pessoas são barulhentas e espaçosas. Por que necessito tanto de futilidades para aliviar o peso da realidade.

Preciso me escutar para não me perder no emaranhado das tarefas rotineiras, no atordoamento em meio a gritos e gemidos, e na avalanche de teorias, terapias, opiniões e notícias.

Preciso desesperadamente entender esta doença tão misteriosa que é o autismo, sem interpretações divinas ou transcendentais. Simplesmente compreender a melhor forma de conduzir minha vida e a de Otávio, respeitando nossos desejos e limitações.

A quietude é inspiradora e fonte de energia que repara e reconstroi. Faz me enxergar a mediocridade e refazer caminhos. A solidão já não me assusta e sim me atrai e me encanta, com sua riqueza de detalhes e com o alvoroço de sentimentos que gera.

Silvia Sperling/Leitora
Silvia Sperling e o filho, Otávio
Silvia Sperling e o filho, Otávio

Aprendi com meu filho essa maternidade especial, assim como ele. Uma maternidade diferente da idealizada em comerciais e capas de revistas. Distante das comemorações, sorrisos e aplausos. Das conversas efusivas em corredores de escolas. Da glamurização do primeiro passo, da primeira palavra, do primeiro desenho.

Adquiri um olhar divergente, questionador e inquietante, frente ao outro, a mim e à vida. Pois, se meu filho é diferente, logo, eu tenho que me modificar. Mudar de planos, nossa casa, o ensino, a rotina, o roteiro.

Escrever uma história que valha a pena, onde há drama, comédia, ação, aventura. Uma trama complexa, longa, que não agrada a todos, mas somente a quem estiver disposto a encontrar um sentido mais profundo do que em enredos corriqueiros e novelescos.

Seguirei aprendendo a como dirigir nossa vida e reconhecendo quem merece partilhá-la. Serão poucos, mas fiéis, otimistas, silenciosos e abnegados. De qualquer forma, eu estarei sempre aqui, sendo a força, o amparo, a bravura, a doçura, a loucura. Sendo para sempre sua mãe.


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