Folha de S. Paulo


Montesquieu questiona costumes franceses em romance da Coleção

Chega às bancas no próximo domingo (4/10) a primeira grande obra de Charles Louis de Secondat, barão de Montesquieu (1689-1755): as "Cartas Persas". O livro da Coleção Folha Grandes Nomes do Pensamento consiste em cartas -trocadas por viajantes persas- sobre a França.

O artifício de abordar costumes ocidentais por um ponto de vista externo teve um sucesso extraordinário e levou franceses a questionarem seus hábitos e preconceitos.

Lançado em 1721, o romance conserva até hoje uma atualidade surpreendente. Quem não reconhece neste parágrafo uma descrição das nossas redes sociais: "Vejo em todos os lados pessoas que falam incessantemente de si mesmas... Falam-vos das menores coisas que lhes aconteceram, e querem que o interesse que sentem nisso as engrandeça a vossos olhos: tudo fizeram, tudo viram, tudo disseram, tudo pensaram".

O egocentrismo é generalizado: "Parece-me, Usbek, que sempre julgamos as coisas tão somente de acordo com uma avaliação interior que fazemos de nós mesmos... Já disseram com razão que, se os triângulos criassem um deus, haveriam de dar-lhe três lados".

Montesquieu descreve sarcasticamente os poetas de sua época -"os mais ridículos de todos os homens"- e os eruditos -"que vão para todo lado procurar retalhos das obras dos outros e plantam-nas nas suas, como pedaços de grama em um canteiro".

Ainda mais interessantes são as pessoas "que sabem falar sem nada dizer e entretêm uma conversa durante duas horas sem que seja possível decifrá-los, plagiá-los nem reter uma só palavra do que disseram".

Reprodução/Folha
Montesquieu

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