Folha de S. Paulo


Pivô de polêmica, filósofo Michel Foucault é tema da Coleção Folha

Pivô de uma grande polêmica no Brasil, Michel Foucault (1926-1984) terá dois textos publicados no sexto volume da Coleção Folha Grandes Nomes do Pensamento, que chega às bancas no domingo (21).

O primeiro é a sua tese "Gênese e Estrutura da 'Antropologia' de Kant", defendida em 1961, mas que ficou inédita até 2008. O segundo é "A Ordem do Discurso", a aula inaugural de Foucault no Collège de France, em 1970.

São precisamente as palestras de Foucault no Collège que estão no centro do presente debate. Os áudios das aulas foram doados à PUC de São Paulo sob a condição de que a universidade criasse uma cátedra sobre ele. A Fundação São Paulo, mantenedora da PUC, porém, rejeitou o pedido, aparentemente porque Foucault não tem afinidade com a doutrina católica.

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O filósofo francês Michel Foucault em foto não datada
O filósofo francês Michel Foucault em foto não datada

A leitura de "A Ordem do Discurso" permite aferir as possíveis razões para tal rejeição. Nessa aula, Foucault explica que em toda sociedade a produção do discurso é controlada "por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos".

Antigamente o discurso considerado verdadeiro –aquele "pelo qual se tinha respeito e terror"– era o "discurso pronunciado por quem de direito e conforme o ritual requerido".

Pouco a pouco a verdade se deslocou do "ritual da enunciação" para "o próprio enunciado": ela deixou de ser o discurso da autoridade, mas ainda se apoia sobre um suporte institucional.

Para que uma proposição seja validada, ela precisa integrar uma disciplina institucionalizada: as descobertas de Gregor Mendel (1822-1884) permaneceram ignoradas por muito tempo porque ele usava métodos estranhos à biologia da época.

Mas é preciso mais: a apropriação social dos discursos exige também que o discurso integre uma doutrina –religiosa, política, filosófica: "A doutrina liga os indivíduos a certos tipos de enunciados e lhe proíbe, consequentemente, todos os outros".

Reprodução/Folha
Coleção Folha - Michel Foucault

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