Folha de S. Paulo


Folha publica obra do filósofo Voltaire sobre tolerância

A Folha lança neste domingo (31) o "Tratado sobre a Tolerância", no qual o filósofo iluminista francês Voltaire (1694-1778) critica os fanatismos religiosos e defende o respeito às crenças dos outros: "A tolerância jamais suscitou uma guerra civil, enquanto a intolerância cobriu a terra de chacinas".

O livro foi escrito em 1762, sob o impacto da execução de Jean Calas, um protestante acusado de ter assassinado um de seus filhos para evitar que ele se convertesse à religião católica.

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O escritor francês Voltaire, retratado por Nicolas de Largilliere. (Foto: Reprodução) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Voltaire, retratado por Nicolas de Largilliere

Voltaire se empenha em provar que o jovem cometera suicídio e obriga a Justiça a reabilitar o condenado, ainda que postumamente.

Em sua obra –terceiro volume da coleção Folha Grandes Nomes do Pensamento, o francês observa que "temos religião de sobra para odiar e perseguir, e pouca para amar e socorrer".

Ora, é fácil perceber que atacar alguém por pensar de forma diferente, além de atentar contra o direito natural, apenas divide e debilita uma sociedade.

Ao longo do livro, Voltaire recorre à história para demonstrar que os povos antigos eram mais tolerantes.

MÁRTIRES

Observa que as violências cometidas contra os cristãos no Império Romano decorriam na maior parte das vezes da atitude intolerante dos próprios mártires –que rasgavam editos dos imperadores, recusavam-se a pagar impostos e profanavam templos de outras religiões.

Na realidade, ensina Voltaire, as maiores atrocidades foram praticadas pelos cristãos: "Digo-o com horror, mas com verdade: nós, cristãos, é que fomos perseguidores, carrascos, assassinos! E de quem? De nossos irmãos. Nós é que destruímos cidades, com o crucifixo ou a Bíblia na mão, e não cessamos de derramar sangue e de acender fogueiras, desde os tempos de Constantino".

Daí a importância da filosofia, diz ele: é a razão que nos leva a compreender que todos os homens são irmãos e, com isso, desarma as mãos que as superstições ensanguentaram.

Reprodução/Folha
Coleção Folha Voltaire

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