Folha de S. Paulo


Professora emérita da PUC comenta polêmica acerca de cátedra

É bem verdade que a partir dos anos duros da repressão que marcou a história recente do nosso país, a PUC-SP tornou-se símbolo e recinto de resistência. Este lugar, que tanto a dignifica, não foi conquistado com meras palavras, mas com gestos contundentes. Foram gestos concretos, que partiram do então Grão-Chanceler Dom Paulo Evaristo Arns, da Reitoria, e da comunidade de professores, funcionários e estudantes. Frente às ameaças daquela época, a Universidade correu seus riscos.

Hoje, a PUC-SP corre outros riscos. Um gesto recente parte do Conselho Superior da Fundação São Paulo, composto pelos bispos auxiliares da cidade de São Paulo e presidido pelo atual Grão-Chanceler, Dom Odilo Scherer. O gesto, que ameaça a instituição acadêmica na sua identidade de Universidade, consistiu no veto à criação da Cátedra "Michel Foucault e a filosofia do presente" (Obscurantismo ou identidade). Respaldada em trabalhos consolidados de pesquisa realizados na PUC-SP, a Cátedra resulta de uma proposta elaborada por professores de nove Universidades estrangeiras (École Normale Supériere de Paris, Universidad San Martin, Collège International de Philosophie, Universidad de Valparaiso, Universidade Nova de Lisboa, Universidad de Los Andes, Université de Bordeaux, Université de Paris VIII, Universidad Complutense de Madrid), apoiada pelo Consulado Geral da França em São Paulo.

A Cátedra não é uma entidade meramente honorífica. Sua função é eminentemente acadêmica e, longe de ter função prática menor, abre caminhos para a afluência de pesquisadores de todo o mundo, para a obtenção de aportes materiais destinados à pesquisa e projeta a PUC-SP no contexto da internacionalização.

A grande repercussão pública deste veto, de um lado, indica a relevância científica e intelectual da Cátedra. Dentre as numerosas manifestações de apoio à sua criação, destaca-se, por exemplo, uma petição internacional que já conta com quatro mil assinaturas, reunindo signatários de quarenta e nove países. De outro lado - e principalmente - a repercussão é reveladora do arbitrarismo e do poder abusivo que sustenta aquele gesto de censura. Temor pela censura? Por que não? Afinal, não há critério justo nem bases razoáveis para a censura, qualquer que seja.

Divulgação
PUC amanhece com placa em homenagem ao filósofo Michel Foucault; ato pede que cátedra seja mantida na universidade
PUC amanhece com placa em homenagem ao filósofo Michel Foucault; ato pede que cátedra seja mantida na universidade

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