Folha de S. Paulo


'Estou presa em casa; pessoas estão assustadas', diz brasileira nos EUA

Segunda-feira (15) amanheceu como outro dia qualquer. Levantei, tomei café e me dirigi ao trabalho, tudo dentro da normalidade na cidade de Boston (EUA). Porém, não havia nada de normal naquele dia, logo o pesadelo dos que moram aqui no Estado de Massachusetts começaria.

Por volta das 3h30, comecei a receber ligações e mensagens de amigos e familiares do Brasil perguntando se eu estava bem. Sim, eu estava. Por que não estaria? Sem ainda me dar conta do que estava acontecendo, liguei a TV. Duas bombas haviam sido explodidas na maratona de Boston.

"Como assim?" pensei. No começo não fazia muito sentindo, mas logo comecei a entender. Mais um ato de maldade do ser humano contra outros. Não importa se sou brasileira ou americana, acima de tudo sou humana. E aquilo me abalou, pois pela primeira vez me senti parte de uma tragédia de tal proporção.

Sou da cidade de São Paulo, nascida e crescida e infelizmente me "acostumei" com a violência gratuita. Mas, quando um ato atroz como esse é cometido contra uma sociedade como a de Boston, a qual me acolheu tão bem por todo esse tempo que moro aqui, é como se tivessem atingindo sua própria casa, seu próprio país.

"Eu poderia estar lá" foi uma das coisas que passou pela minha cabeça. Uma rua famosa da cidade, onde levei minha mãe e minha prima para conhecerem quando me visitaram aqui, foi destruída por dois seres e não digo humanos, pois uma pessoa que tem a capacidade de tirar vidas inocentes por pura "diversão" não podem ser qualificados como tais.

Curta o Painel do Leitor no Facebook
Siga o Painel do Leitor no Twitter
Envie seu relato ou foto sobre a tensão em Boston
Jornalista da Folha relata noite de terror em Boston
Igor Gielow: Origem dos irmãos gera dúvida

As notícias eram assustadoras, pessoas feridas, perdendo pernas e, pior, perdendo entes queridos. Sei apenas que naquela noite abracei meu namorado mais forte e dei graças a Deus por estarmos bem, porque afinal de contas fazemos parte de Boston e, realmente, poderíamos estar lá.

Os dias passaram e a tensão só aumentou. A polícia tentando encontrar pistas e as pessoas tentando entender o porquê dessa tragédia. A verdade é que não existe uma explicação coerente, são atos de maldade que vemos todos os dias, aqui ou aí [Brasil].

Hoje é sexta-feira. Estou presa em casa, não fui trabalhar transportes públicos fechados, até a energia já cortaram aqui. Não moro tão perto da cidade do tal suspeito, mas faço parte de Boston e sinto o peso dessa tragédia.

Ontem à noite, um policial do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, em inglês) foi morto na rua Vassar. Na mesma rua em que meu namorado joga bola, na mesma rua que me encontro com ele todas as quintas-feiras.

Sim, as quintas. Mas ontem não fui e ele chegou em casa às 22h, um pouco antes dos tiroteios. Na verdade, ele viu a agitação policial por lá sem imaginar que os suspeitos estavam perto.

A sensação de que poderíamos estar lá continua em mim. As notícias não param aqui, o clima está tenso, pessoas assustadas.

Ninguém sabe, literalmente, onde o suspeito se encontra no momento e ele pode está agora passando pela minha rua ou na rua de baixo, quem sabe? Na verdade, ninguém. Apenas sei que, pela primeira vez desde que cheguei aqui, tranquei todas as portas, coisa que só imaginei que tivesse que fazer em São Paulo.

Espero que o encontrem logo, pois quero tirar esse sentimento assustado de mim. Quero poder andar mais nas ruas de Boston sem o pensamento de que uma bomba pode explodir ou um louco pode chegar atirando.

Vamos esperar, acompanhar as notícias e rezar para que esse pesadelo acabe logo.

Beatriz Catelani Dias/Leitora
Beatriz Catelani Dias em foto tirada em 2012 próximo ao local onde ocorrem os atentados em Boston
Beatriz Catelani Dias em foto tirada em 2012 próximo ao local onde ocorrem os atentados em Boston

Endereço da página:

Links no texto: