Folha de S. Paulo


editorial

Macri avança

Victor R. Caivano/Associated Press
A demonstrator waves an Argentine flag as a crowd marches to the Congress to protest against a pension reform in Buenos Aires, Argentina, Tuesday, Dec. 19, 2017. Demonstrators in several neighborhoods of Buenos Aires banged on pots Monday night to protest the measure and marched to Congress. The protests hold deep symbolism for Argentines, who recall Argentina's worst economic crisis in 2001-2002, when pot-banging marches forced presidents from office. (AP Photo/Victor R. Caivano) ORG XMIT: VC105
Homem protesta em Buenos Aires contra a reforma previdenciária na Argentina

Fortalecida pela vitória nas eleições legislativas de outubro, a coalizão Cambiemos que sustenta o governo do presidente argentino Mauricio Macri tem conseguido avançar nas reformas econômicas.

A agenda é ampla e tem como pilar a contenção do gasto público. O buraco nas contas, incluindo as províncias e o pagamento de juros, está projetado em 7% do Produto Interno Bruto neste ano (um pouco menor que o brasileiro, que chega a 9% do PIB).

Macri trabalha em duas frentes. De um lado, aprovou no Senado uma reforma tributária, que reduzirá taxas para as empresas. Ao longo de cinco anos o imposto sobre os lucros cairá de 35% para 25%. Pretende-se favorecer a competitividade e alinhar a cobrança no país a padrões internacionais.

Para bancar a redução, que ainda precisa passar pelos deputados, e ao mesmo tempo reduzir o déficit, o governo precisa conter gastos. Nessa frente, tal como no Brasil, o sistema previdenciário é grande parte do problema.

Em meio à violência nas ruas, que resultou em dezenas de feridos e pelo menos 70 pessoas detidas, o governo conseguiu aprovar mudanças nas aposentadorias na semana passada, em sessão de mais de 12 horas na Câmara.

A alteração principal se dá nas regras de cálculo dos benefícios, que seguirão uma fórmula de reajuste trimestral que leva em conta a inflação e a evolução dos salários.

A economia estimada chega a 67 bilhões de pesos (0,6% do PIB) em 2018. Se a regra estivesse em vigor neste ano, a correção das aposentadorias seria de 23,6%, contra 28% concedidos com base dos parâmetros existentes antes da reforma.

Como atenuante, o governo promete pagar um abono para os cidadãos que ganham até 10 mil pesos (equivalentes a US$ 570) ao mês, cerca de 10 milhões de pessoas.

Por fim, a lei garantirá uma renda mínima para quem contribuir por 30 anos e facultará o adiamento da aposentadoria até os 70 anos.

Registre-se que na Argentina a idade mínima atual é de 65 anos para homens e 60 para mulheres, muito próximo ao que se quer aprovar no Brasil com longo atraso.

Com o êxito no redesenho previdenciário, o governo abre caminho para finalizar as mudanças na área tributária, o que tende a favorecer o crescimento da economia e a criação de empregos.

O país deve fechar o ano com alta do PIB próxima dos 3%. Acredita-se que a expansão possa ser maior no ano que vem, ajudando Macri na disputa pela reeleição em 2019.

editoriais@grupofolha.com.br


Endereço da página:

Links no texto: