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Efeito Odebrecht

Mariana Bazo/Reuters
Peru's President Pedro Pablo Kuczynski (seated) listens as his lawyer Alberto Borea addresses lawmakers of the opposition-ruled Congress, in Lima, Peru December 21, 2017. REUTERS/Mariana Bazo TPX IMAGES OF THE DAY ORG XMIT: GGGCDG25
O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski (sentado) ouve seu advogado em audiência

A rede tentacular de corrupção gestada pela construtora Odebrecht se replicou em boa parte dos países vizinhos. Do que foi desvelado até o momento, esta encontrou no Peru o terreno mais fértil para se espalhar por quase todas as estruturas de poder.

Em nenhuma outra nação os desdobramentos desse esquema puseram sob risco real o mandato de um presidente.

O economista liberal Pedro Pablo Kuczynski, no poder desde 2016, foi alvo de um pedido de vacância do cargo, apresentado pelo Congresso, por suposto recebimento de propina da empreiteira quando era ministro do governo Alejandro Toledo (2001-2006).

Em sessão concluída na madrugada de sexta-feira (22), PPK, como é conhecido, salvou-se por apenas oito votos que faltaram à oposição, maioria no Parlamento unicameral, para aprovar a medida.

Cumpre dizer, em defesa do mandatário, que os congressistas não encontraram materialidade suficiente para comprovar que ele favoreceu a empresa brasileira em troca de pagamentos a uma consultoria da qual é proprietário, à época gerida por um sócio.

Embora dentro da legalidade constitucional, o processo parlamentar contra PPK revelou-se açodado, com pouco mais de uma semana decorrida entre o recebimento do pleito da oposição e a votação em plenário.

As investigações na esfera judicial, entretanto, continuam e podem trazer elementos novos. O presidente deve, ainda, uma posição mais transparente sobre seus negócios. Por mais de uma vez, disse que suas empresas nunca tiveram relação com a construtora, para mais tarde se desmentir.

Se o mandatário pode gozar de um alívio momentâneo, seus três antecessores no cargo já foram tragados pelo vórtice da Odebrecht.

Foragido nos EUA, Alejandro Toledo foi condenado sob a acusação de ter recebido US$ 20 milhões em suborno; Alan García (2006-2011) responde à Justiça também pela suspeita de propina; Ollanta Humala (2011-2016) cumpre prisão preventiva por lavagem de dinheiro: a empreiteira teria destinado US$ 3 milhões à sua campanha.

Ainda que tenha ganhado sobrevida, PPK mantém-se vulnerável a um Parlamento controlado por partidários do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), hoje preso por corrupção e crimes contra os direitos humanos.

Tal instabilidade ameaça a trajetória de crescimento econômico na última década -ironicamente, o cenário em que a Odebrecht pavimentou sua presença no país.


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