Folha de S. Paulo


ULISSES BARRES DE ALMEIDA

Um cosmo para o bem de todos

Nasa - 26.fev.1998/Associated Press
Ilustração da sonda Voyager.1 sobrevoando Saturno. FILE--The Voyager I spacecraft is shown approaching Saturn in an artists rendering from NASA. Voyager 1 won the distinction Tuesday, Feb. 17, 1998, of becoming the most distant man-made object in the universe, surpassing the distance of the older Pioneer 10 spacecraft, the 6.5 billion-mile mark . [AP Photo/NASA]*** NÃO UTILIZAR SEM ANTES CHECAR CRÉDITO E LEGENDA***
Ilustração da sonda Voyager 1 sobrevoando o planeta de Saturno

O ano de 2018 marcará o 50º aniversário da primeira conferência Unispace, organizada pelas Nações Unidas em agosto de 1968, para a promoção dos "usos pacíficos do espaço exterior". Realizada nos anos críticos que marcaram o auge da corrida espacial, seu objetivo foi o de chamar a atenção para os vastos e potenciais benefícios do espaço e da recém-inaugurada "Era Espacial" para a humanidade.

Outras duas conferências Unispace foram realizadas, em 1982 e 1999. E como o fará a Unispace+50, esses encontros pediram a cooperação entre nações para usos do espaço que promovessem o desenvolvimento humano.

Não obstante os conhecidos riscos que os conflitos internacionais trouxeram —ao se valerem da órbita terrestre e da tecnologia espacial para fins militares—, os cientistas muito fizeram desde então pela conquista pacífica do espaço e a ampliação do conhecimento do universo para o benefício de todos, auxiliados pelo protagonismo de agências espaciais, instituições de pesquisa e governos.

As viagens à Lua e as sondas que hoje perscrutam a superfície marciana, bem como a heroica viagem da espaçonave Voyager, que há quatro anos cruzou os confins do Sistema Solar, são exemplos do engenho e da atração da humanidade pelo cosmo, que colaboram para vencer limites.

Os modernos observatórios astronômicos, por sua vez, ao varrerem o céu em todas as janelas observacionais disponíveis, investigando o vasto espectro de fenômenos celestes, demonstram os avanços em busca do conhecimento de nossa origem e destino —e de qual seja nosso próprio contexto cósmico.

A esteira dos avanços científicos e tecnológicos testemunhados nos últimos 50 anos levou-nos daquele limiar cósmico de 1968 à soleira de uma nova fronteira. A atual "Era da Informação" é a conjunção histórica entre uma taxa de produção de dados nunca antes vista e uma capacidade quase ilimitada de disseminação dessa informação.

Hoje, as forças que moldam o mundo já parecem se manifestar mais fortemente na arena virtual que em outros espaços, e, assim como ocorreu na aurora da "Era Espacial", é necessário alertar e trabalhar para que o domínio desses novos territórios esteja nas mãos dos agentes benignos.

Os benefícios e as potencialidades que a exploração e o conhecimento do espaço comportam muito podem contribuir para a paz e o crescimento da humanidade nesse novo contexto. A educação sobre os temas do cosmo —que sempre serviu de inspiração às novas gerações— é elemento crucial na promoção da cidadania e do desenvolvimento humano.

Outrossim, a disseminação global dos avanços tecnológicos advindos das ciências espaciais pode contribuir para a justiça e a igualdade entre os povos e as nações. Nesse sentido, as amplas vias de comunicação abertas pelo mundo virtual são instrumento fundamental para que tais avanços alcancem todo o planeta —e principalmente aquelas regiões mais distantes dos centros irradiadores, frequentemente à margem do progresso.

Com esse propósito, o Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior (Unoosa) realizou entre os dias 20 e 22, em Viena, um workshop para o lançamento da iniciativa "Open Universe", a ser promovida sob os auspícios do Comitê para Usos Pacíficos do Espaço (Copuos). Essa iniciativa irá desenvolver uma plataforma global para a integração de dados sobre ciências espaciais, além de promover ações para a disseminação de informação e a educação em astronomia e ciências afins.

O "Open Universe" permitirá maior integração e compartilhamento de informações entre os cientistas de todo o planeta, promovendo avanços na pesquisa, além de ampliar a acessibilidade a conteúdo científico de qualidade para educadores, estudantes ou quaisquer cidadãos interessados. Representa, portanto, um esforço para a democratização do conhecimento sobre o cosmo.

O Brasil é uma das várias nações e órgãos internacionais que apoiam o "Open Universe", por meio inclusive de projetos de disseminação de dados científicos, como o Brazilian Science Data Center, em curso no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio de Janeiro.

Busca-se, assim, concorrer para que, também no contexto atual, a inspiração e a maravilha do cosmo possam encontrar a todos e —como sempre fizeram— contribuir para a elevação do espírito humano e a construção do futuro.

ULISSES BARRES DE ALMEIDA, 34, doutor em astrofísica pela Universidade de Durham (Reino Unido), é pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro, coordenador do projeto do Brazilian Science Data Center e membro do Comitê de Programas da Iniciativa "Open Universe"

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