Folha de S. Paulo


ROLF HOENGER

Inovação como ferramenta para alavancar acesso à saúde no Brasil

Victor/Flickr
Pílulas
Indústria farmacêutica deve fortalecer parcerias para buscar inovação

Nada mais desafiador para mim do que ajudar a prover soluções para que um número cada vez maior de cidadãos tenha acesso a saúde pública e privada de qualidade. É o sonho que carrego desde que, sem possibilidades para cursar uma faculdade de medicina, fui buscar na indústria farmacêutica uma oportunidade para fazer a diferença na vida das pessoas.

Vi, assim, a inovação como principal ferramenta para fazer essa diferença e alcançar os melhores resultados.

Observo que a ideia de inovação é muito focada na criação de novos produtos, serviços ou tecnologias —o que faz muito sentido. Criar um produto que gere valor e transforme positivamente a vida das pessoas deve ser a essência do propósito das companhias. O que me atrai é essa capacidade humana de criar e transformar a tecnologia em uma aliada para prolongar vidas.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre 2010 e 2050 é esperado que a população brasileira de idosos triplique. O envelhecimento reflete diretamente na necessidade de as empresas inovarem na busca por soluções para atender às novas características do país. Esse cenário aponta para um crescimento na incidência de doenças crônicas, como o câncer —exigindo fortes investimentos em novas frentes de inovação.

Hoje é possível encontrar testes com a finalidade de identificar, simultaneamente, todas as alterações genéticas (frequentes e raras) que podem estar presentes em genes relacionados ao câncer.

A análise genômica oferece a oportunidade de obter informações profundas, relativas ao perfil completo do tipo de tumor dos pacientes. Desta forma, os médicos podem tomar decisões terapêuticas mais fundamentadas.

Além disso, já estão sendo pesquisadas vacinas personalizadas para cada tipo de mutação ou alteração genética que podem desencadear doenças.

Trata-se de um grande avanço para os pacientes; porém, ainda há barreiras a serem derrubadas que impedem o acesso da população a diversas inovações, como as que, por exemplo, garantem o uso racional das terapias complexas e minimizam eventos adversos dispendiosos. Por isso mesmo, associar inovação em saúde somente à pesquisa e ao desenvolvimento de novos produtos é um conceito que precisa ser revisto.

A indústria deve olhar para a inovação sob outra perspectiva, considerando o fortalecimento das parcerias que contribuirão para a geração de valor para a sociedade e o alcance dos objetivos de negócios. Com uma visão ampliada da inovação, podemos ultrapassar barreiras na saúde, sejam elas na área da medicina ou na geração do acesso.

Nesse campo, tenho convicção de que o acesso às novas tecnologias é uma prioridade que enfrenta sérios desafios, como uma gestão mais eficiente dos recursos; um sistema de informação realmente interligado –que guarde não só a trajetória dos pacientes na rede, mas também dados para governança e melhor uso dos serviços de saúde.

Soma-se ainda a necessidade de revermos os modelos de reembolso de tecnologias em saúde e de estimularmos fortemente programas de prevenção e diagnóstico precoce, além do tratamento correto e, quando possível, personalizado, que trará benefícios reais ao paciente.

A resposta para esse desafio começa por essas parcerias, pela responsabilidade compartilhada com todo o setor, e anda de mãos dadas com a inovação. Devemos, juntos, como atores e formadores de opinião, dialogar e colaborar para entender como absorver a inovação, gerando reais benefícios para a população brasileira.

ROLF HOENGER, formado em economia pela Universidade de St.Gallen (Suíça), é presidente da Roche Farma Brasil

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