Folha de S. Paulo


editorial

O poderoso Xi

Ju Peng/Xinhua
(171024) -- BEIJING, octubre 24, 2017 (Xinhua) -- Xi Jinping (c-frente), Li Keqiang (3-d-frente), Zhang Dejiang (3-i-frente), Yu Zhengsheng (2-d-frente), Liu Yunshan (2-i-frente), Wang Qishan (d-frente), Zhang Gaoli (i-frente), Jiang Zemin (4-d-frente) y Hu Jintao (4-i-frente), asisten a la sesión de clausura del XIX Congreso Nacional del Partido Comunista de China (PCCh), en el Gran Palacio del Pueblo en Beijing, capital de China, el 24 de octubre de 2017. (Xinhua/Ju Peng) (jg) (ah)
Congresso do Partido Comunista chinês; ao centro, o presidente da China, Xi Jinping

Pouco será lembrado no futuro sobre o que se discutiu no 19º Congresso Nacional do Partido Comunista da China, encerrado na terça-feira (24). O objetivo desta mais recente reunião quinquenal mostrou-se um só: revelar ao mundo que o líder chinês, Xi Jinping, foi alçado a um novo patamar de poder.

Em seu discurso de quase três horas e meia, Xi projetou seu país como "potência global líder" até 2050. Por 36 vezes, utilizou o termo "nova era" para definir o desenvolvimento chinês.

Tal expressão, aliás, passou a fazer parte da Constituição do PC, associada ao "pensamento de Xi Jinping sobre socialismo".

Embora a inclusão tenha apenas efeito simbólico, só outros dois dirigentes tiveram o mesmo reconhecimento: os históricos Mao Tsé-Tung (1893-1976), líder da Revolução de 1949, e seu sucessor, Deng Xiaoping (1904-1997), que iniciou as reformas pró-mercado.

No plano doméstico, Xi granjeou respeito —e temor— dentro da cúpula do PC por promover um amplo programa anticorrupção. Segundo o governo, 1,4 milhão de filiados foram punidos, e 54 mil respondem a processos na Justiça. Para críticos, a campanha tem servido para enquadrar rivais internos que pudessem desafiá-lo.

A ascensão se explica também pela inaptidão do presidente dos EUA, Donald Trump, para o papel de líder global. Enquanto este se encasula no discurso nacionalista, Xi se apresentou à elite econômica em Davos como defensor do livre comércio, da paz internacional e das políticas de combate às mudanças climáticas.

Com Washington distante do palco mundial, não há outro mandatário, por ora, capaz de fazer frente à influência de Xi —possíveis contrapesos, como o presidente russo, Vladimir Putin, e a chanceler alemã, Angela Merkel, se mostram simpáticos ao dirigente chinês, como forma de isolar Trump.

Nos próximos cinco anos de seu segundo mandato, podem-se esperar uma crescente presença nas instâncias multilaterais e mais investimentos em infraestrutura pelo mundo. Empréstimos chineses já criaram aguda dependência em vários países latinos e africanos.

Ainda que não se fale abertamente, há indícios de que Xi possa se manter no poder depois de 2022. Para tanto, faz-se necessária uma emenda à Constituição, algo quase protocolar para uma ditadura de partido único.

Ressalte-se que o regime só tem aumentado a repressão contra dissidentes, e a perspectiva de abertura política é mínima, se tanto. Uma vez traçado o caminho de Xi como superlíder, será difícil lhe cobrar mudanças depois –tanto dentro quanto fora da China.

editoriais@grupofolha.com.br


Endereço da página:

Links no texto: