Folha de S. Paulo


DANIEL FEFFER E MARCOS TROYJO

Inteligência artificial e comércio global

Andy Wong/Associated Press
Pedestrians pass by a billboard with foreign currency signs on display outside a bank in Beijing, Tuesday, July 18, 2017. China's economic growth held steady in the latest quarter, boosted by unexpectedly strong trade and consumer spending, despite fears tighter lending controls aimed at cooling a surge in debt are weighing on commercial activity. (AP Photo/Andy Wong) ORG XMIT: XAW104
Pedestres passam diante de um quadro com símbolos de moedas, na fachada de um banco em Pequim

A globalização está numa encruzilhada. Reinventar empresas e postos de trabalho é desafio a que nos lança a quarta Revolução Industrial. Tal dinâmica é causa indireta de protecionismo. Após a Segunda Guerra Mundial, o comércio internacional tornou-se principal motor da prosperidade.

Isso mudou. Estatísticas da OMC (Organização Mundial do Comércio) mostram que, desde a grande recessão de 2008, medidas defensivas de comércio estão aumentando.

Risco de desglobalização e Indústria 4.0 são os dois vetores mais importantes do mundo atual.

Há, claro, ações que transcendem o comércio para fazer globalização e quarta Revolução Industrial funcionarem. Requalificação ("reskilling") de talentos é uma delas.

Um "scanning" do horizonte tecnológico atual permite, contudo, enxergar possibilidades ilimitadas. Existem inovações capazes de impulsionar o comércio de forma inclusiva e inteligente. Por isso, decidimos propor uma "Iniciativa Inteligente de Tecnologia e Comércio" (ITTI, na sigla em inglês), que lançamos nesta quarta (27) no Fórum Público da OMC, em Genebra.

A "ITTI" reunirá, de agora em diante, líderes da tecnologia, empresários, negociadores e acadêmicos no debate sobre como blockchain e inteligência artificial (IA) podem impactar o comércio global.

Trata-se de movimento para que tais tecnologias superem obstáculos ao comércio, pois habilitam redes de produção, compliance, contratos inteligentes, financiamento e melhor uso de recursos naturais.

Mas tais tecnologias são também muito inclusivas. Permitem desintermediação, confiança e acesso ágil ao mercado. Isso reduzirá distâncias entre grandes multinacionais e pequenas empresas; países de economia madura ou em desenvolvimento.

A IA também pode nivelar tratativas comerciais. Tradicionalmente, os países menos desenvolvidos não estão equipados para minúcias negociais. Essas tecnologias ajudarão a estruturar dados e prever diferentes cenários graças à computação em nuvem.

O protecionismo geralmente resulta de subjetividade e desinformação. Ao aplicar IA na modelagem de acordos internacionais, países estimarão com mais acerto custos e benefícios de decisões comerciais.

Aplicações de blockchain e IA para o comércio serão inicialmente adaptadas de outros usos em finanças, logística ou no mundo jurídico. A maioria terá de ser construída do zero. Concebemos a ITTI na forma de projeto multimídia a examinar como tecnologias de ponta trarão novas abordagens que permitam uma agenda comercial alinhada às metas de desenvolvimento sustentável da ONU.

É apenas por meio da interação entre comunidade tecnológica, negociadores comerciais, líderes empresariais e acadêmicos que soluções intensivas em tecnologia serão formuladas. A ITTI buscará isso, promovendo estudos, conferências, documentários e séries de entrevistas no YouTube sobre o futuro da tecnologia e do comércio.

A era que está surgindo precisa incluir empresas grandes ou pequenas, países ricos ou emergentes, para todos desfrutarem de seu potencial. Com isso, elevaremos não apenas exportações e importações, mas a própria cooperação internacional.

DANIEL FEFFER, presidente do Conselho da ICC Brasil (Câmara de Comércio Internacional), é fundador e presidente da ITTI
MARCOS TROYJO, colunista da Folha, é professor-adjunto de relações internacionais e diretor do BRICLab na Universidade Columbia (EUA) e da ITTI

PARTICIPAÇÃO

Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@grupofolha.com.br


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