Folha de S. Paulo


editorial

Rocinha cercada

Carl de Souza/AFP
A woman walks with her baby past a PM militarized police soldier in position and aiming his rifle in Rocinha favela in Rio de Janeiro, Brazil on September 23, 2017. Although shooting was reported in the early hours of Saturday in Rocinha -- for the seventh day running -- officials said that Friday's deployment of 950 soldiers to reinforce police had brought the crisis under control. / AFP PHOTO / CARL DE SOUZA ORG XMIT: 011
Mulher com bebê passa por soldado na Rocinha, no Rio de Janeiro

Há mais de uma semana só faz complicar-se a situação da comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro. Nem mesmo o cerco efetuado por tropas do Exército nas saídas do morro foi capaz de estancar as escaramuças entre quadrilhas.

Saldo divulgado de oito dias da operação militar e policial: seis mortos, 29 mandados de prisão expedidos, seis pistolas, 15 granadas e 14 fuzis apreendidos.

Nesta segunda-feira (25), a favela de 70 mil habitantes amanheceu sem disparos, mas também sem aulas —medida de prudência óbvia, pois ninguém sabe dizer se e quando os tiroteios recomeçarão. São nove estabelecimentos e mais de 3.000 alunos sem ensino.

E não foi só no morro: também no asfalto, como se diz no Rio, colégios particulares da Gávea, bairro vizinho, cancelaram atividades. Os boatos se multiplicam, artérias cruciais são bloqueadas, e o pânico se espalha pela cidade.

O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), após arruinar o Estado na companhia do antecessor e correligionário Sérgio Cabral Filho, pediu socorro ao Exército. No início de agosto a Força já se posicionara nas ruas, afastando-se após desentendimentos com a Secretaria de Segurança Pública fluminense.

Em realidade, o poder público se mostra impotente diante da desenvoltura das facções. Elas já vão retomando todos os territórios que haviam perdido com as de início bem-sucedidas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

A presença constante de agentes da lei nas comunidades constitui só o início da retomada dessas áreas pelo Estado, porém. Sem um esforço continuado de inteligência policial, para localizar arsenais de criminosos e obstruir rotas de armas e drogas, essa política está fadada ao fracasso.

Violência e corrupção na corporação policial permaneceram intocadas pelas UPPs, que perderam prestígio e eficácia. Some-se a isso o sucateamento de todos os serviços estaduais pelo descalabro financeiro peemedebista, aí incluído o aparelho de segurança pública.

Chamar o Exército se tornou a saída de praxe no Rio, mas tal intervenção quando muito pode servir de apoio pontual, com objetivo bem delimitado (como este cerco na Rocinha), pois não é capaz de substituir a ação da polícia.

As Forças Armadas não têm vocação para manter a ordem pública. Prolongar sua presença no Estado eleva os riscos de excessos ou, até, de cooptação de militares pelo tráfico e pela corrupção. A Força Nacional de Segurança, desde que devidamente equipada, seria mais talhada para a tarefa.

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