Folha de S. Paulo


ROBSON RODOVALHO

O dono do armário

Eduardo Knapp/Folhapress
ORG XMIT: 541201_1.tif SÃO PAULO, SP, BRASIL, 26-10-2010: Jovem gay de 19 anos que tentou se suicidar há um ano. (Foto: Eduardo Knapp/Folha Imagem, FOLHATEEN)
Jovem gay em São Paulo em foto de 2010

Para aqueles que em algum momento da vida se entendem homossexuais, os psicólogos estão, como sempre estiveram, livres para oferecer sua competência profissional como suporte diante da "descoberta" e eventual desejo de viver esse novo "eu".

Esse mesmo profissional, no entanto, estava proibido de atender aqueles que, em dúvida sobre sua sexualidade, buscavam uma terapia que os ajudasse a seguir como heterossexual.

Pois a Justiça restabeleceu, na última sexta-feira (15), a um só tempo, o equilíbrio dos direitos dos cidadãos, a plenitude do exercício profissional dos psicólogos e o acolhimento também àquele que busca suporte terapêutico para viver conforme sua vontade, em harmonia com suas características físicas sexuais de nascimento.

O juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, da 14ª Vara Federal de Brasília, reconheceu em decisão histórica que cabe, no exercício da psicologia, esse tipo de atendimento, sem deixar o profissional vulnerável a punição do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que desde 1999 proíbe qualquer terapia que proponha esse tipo de tratamento.

À semelhança dos atos institucionais da ditadura, o CFP impôs a proibição aos profissionais da carreira, sob o argumento de que homossexualidade não é doença; portanto, não caberia tratamento voltado àqueles que, a despeito de "n" razões, querem seguir como heterossexuais.

É sabido que nós, cristãos evangélicos, temos entre nossos valores mais preciosos o entendimento de que a vida foi concebida por Deus para a convivência entre homens e mulheres, assim nascidos do ponto de vista biológico.

Da mesma forma, está clara para nós, e para a sociedade de uma maneira geral, a força da militância LGBT, que em regra ganha o suporte de líderes e formadores de opinião, com atuação agressiva e eficiente nas redes sociais, que se dizem defensoras das liberdades individuais, quaisquer que sejam.

E, embalada por esse discurso, a doutrina de que sexo é uma formação conceitual empurrou a ideologia de gênero para o conteúdo de formação escolar do ensino básico.

A métrica do juiz federal Waldemar Cláudio de Carvalho foi muito mais no sentido de restabelecer direitos de forma equânime do que uma abordagem de mérito, um alinhamento ao que, de forma pejorativa e preconceituosa, tem sido chamado de "cura gay".

Para nós, cristãos, é sagrado o direito de alguém receber ajuda -ou tratamento, como se queira chamar- diante de qualquer desvio de comportamento.

Mais ainda quando se trata do desejo de restabelecer um comportamento que consideramos natural, que é o de seguir como o homem ou a mulher que ganhou a bênção da vida.

Não cabe, na ordem natural do universo e da vida, entender o sexo como opção conceitual, criação de cada um, como prega a ideologia de gênero proposta por Judith Butler.

Há exceções, claro, que precisam ser respeitadas e encaradas como tal. Mas não se pode fazer da exceção a regra, o ciclo natural da vida.

Numa sociedade democrática que se pretende plural, como a nossa, o equilíbrio dos direitos é fundamental. Ou só há direitos a quem decide sair do armário? Ora, se o sujeito não quer sair e precisa de ajuda profissional para isso, é fundamental respeitá-lo. O armário é dele.

ROBSON RODOVALHO, físico, é bispo presidente da Igreja Evangélica Sara Nossa Terra e da Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil

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