Folha de S. Paulo


editorial

Harvey, Irma e José

Jonathan Bachman/Reuters
Residents wade through flood waters from Tropical Storm Harvey in Beaumont Place, Houston, Texas, U.S., on August 28, 2017. REUTERS/Jonathan Bachman TPX IMAGES OF THE DAY
Pessoas caminham sob chuva em ruas alagadas durante passagem do Harvey, em Houston, Texas

A ocorrência de três furacões simultâneos no Caribe e no golfo do México não chega a ser inédita, porém algo especial envolve a sequência constituída pelas tempestades Harvey, Irma e José —se mais não fosse, já pela destruição no rastro das duas primeiras.

Harvey, o furacão mais forte a atingir o Texas em meio século, deixou a cidade de Houston debaixo d'água. Matou cerca de 50 pessoas e deixou 1 milhão de desabrigados. Os danos podem alcançar US$ 180 bilhões.

A intensidade da tormenta a classifica na categoria de probabilidade "uma a cada 500 anos". No entanto, foi a terceira dessa classe na última meia década.

Irma veio a seguir e se tornou o maior furacão já registrado: ultrapassou a força dos ventos medidos nos devastadores Andrew (1992) e Katrina (2005), com quase 300 km/h, e permaneceu três dias na categoria 5, a mais alta da escala.

Sua espiral chegou a 480 km de diâmetro —mais que a largura máxima da península da Flórida, Estado americano mais afetado. Embora a ressaca tenha inundado o centro de Miami, a tempestade perdeu força e se desviou da costa leste para oeste do Estado.

Houve poucas mortes, menos de uma dezena (números ainda provisórios). A estimativa de danos caiu de US$ 200 bilhões para US$ 50 bilhões —sem computar prejuízos em países pobres do Caribe.

Mesmo que não tenha sido causada pelo aquecimento global, há consenso entre especialistas de que a saraivada de furacões pode ter visto sua violência amplificada pela temperatura anormalmente alta da superfície do Atlântico.

Os oceanos constituem o principal reservatório do calor adicional da atmosfera. Assim, é previsível, e mesmo provável, que os furacões se tornem mais ferozes de agora em diante. Há, portanto, que preparar as cidades costeiras para enfrentarem os eventos extremos que podem vir pela frente.

As medidas preventivas terão um custo que nações mais pobres não podem suportar. Parte do investimento em adaptação deveria ser financiado pelos países que mais poluíram no passado; porém eles resistiram a incluir no Acordo de Paris a doação de US$ 100 bilhões anuais para tais ações.

Compare-se a cifra com os prejuízos estimados de Harvey e Irma, apenas nos EUA: US$ 230 bilhões.

Não é por menos que já se fala na proliferação de ações de perdas e danos contra grandes empresas poluidoras (petroleiras, por exemplo), que ficariam, assim, expostas a processos como os que atormentaram a indústria do tabaco.

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