Folha de S. Paulo


editorial

Beleza urbana

Fabio Braga/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 14-12-2016: ed. Santa Cruz: rua Sebastião Pereira, 98;. O minhocão ganha seu sétimo jardim vertical como parte do projeto Corredor Verde. Ele está no edifício Bonfim e é o segundo maior do mundo, atrás apenas de um jardim vertical de Cingapura. (Foto: Fabio Braga/Folhapress, COTIDIANO)***EXCLUSIVO***. ORG XMIT: AGEN1612142018491537
Jardim vertical em prédio no Minhocão, no centro de São Paulo

A beleza urbana parece ter voltado, felizmente, à pauta política de São Paulo. A promessa de enterrar a fiação elétrica, o surgimento de paredes com jardins verticais e o embate a respeito das diferenças entre o grafite artístico e a pichação propiciaram debates estéticos até então rarefeitos.

Por muito tempo os brasileiros estiveram anestesiados pela feiura de suas cidades, considera o primeiro brasileiro a integrar o júri do prêmio Pritzker, equivalente ao Nobel da Arquitetura.

Em entrevista a esta Folha, o embaixador André Corrêa do Lago lamentou que o poder estatal e o mercado tenham feito pouco para melhorar a aparência dos grandes centros urbanos.

Na metrópole paulistana, mesmo bairros que atraíram fartos investimentos continuam carentes de cuidados com o espaço público.

Em visita à capital, o urbanista dinamarquês Jan Gehl espantou-se com a ausência de praças, bancos e comércio ao nível da calçada na região da Nova Faria Lima, importante centro financeiro.

Nos áridos conjuntos habitacionais do Minha Casa, Minha Vida ou no entorno dos estádios da Copa pelo país, a desatenção com projetos e acabamento limita o efeito positivo de obras que consumiram elevados recursos do Estado.

Da mesma forma, descuida-se da valorização de marcos arquitetônicos. Copan e Conjunto Nacional ficam escondidos, respectivamente, por uma lona de proteção e dezenas de aparelhos de ar condicionado. O mesmo se dá com inúmeros outros edifícios.

Não faltam exemplos internacionais a mostrar caminhos mais proveitosos. Barcelona, nos anos 1980, soube canalizar a demanda reprimida pela proibição dos outdoors. A empresa que patrocinasse o restauro de um prédio histórico poderia ocupar a tela de proteção das obras com seu logotipo.

Recuperaram-se, assim, mais de 600 imóveis, inclusive boa parte do legado do arquiteto Antoni Gaudí, hoje um dos principais atrativos culturais e turísticos da cidade.

A beleza, longe de ser supérflua, proporciona benefícios para a urbe que não se limitam aos gastos dos visitantes. Quando árvores caem sobre o horrendo emaranhado da fiação elétrica, sucedem-se blecautes e falhas em semáforos. Calçadas esburacadas e estreitas espantam os pedestres e tornam as ruas mais inseguras.

A feiura das cidades significa, enfim, menor qualidade de vida.

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