Por uma coincidência cósmica, o eclipse solar parcialmente visível no Norte e Nordeste do Brasil nesta segunda-feira (21) ocorreu um dia depois de a sonda Voyager-2 completar 40 anos no espaço —e ainda enviando dados para a Terra, agora sobre o próprio Sol.
A espaçonave lançada em 20 de agosto de 1977 está a quase 18 bilhões de quilômetros (cerca de 16 horas-luz) da Terra. Deverá deixar a heliosfera –área do cosmo sob influência magnética de nossa estrela– nos próximos anos, destino já seguido pela irmã mais nova.
A Voyager-1 partiu da Flórida duas semanas após a Voyager-2, mas seguiu trajetória diversa e dista 21 bilhões de quilômetros (cerca de 19 horas-luz). Deixou o Sistema Solar há cinco anos.
Ambas enviam informações preciosas sobre a interação das partículas emitidas pelo Sol com o meio interestelar. Graças a esses dados, já se revelou que os raios cósmicos são quatro vezes mais abundantes fora da heliosfera, provando que ela atua como um escudo a proteger os planetas dessa radiação.
Antes disso, as sondas gêmeas já haviam acumulado um prontuário sem par de conquistas. A Voyager-2 foi a primeira a sobrevoar os quatro astros exteriores do Sistema Solar: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Juntas, descobriram um total de 24 luas a orbitá-los.
Foram pioneiras em produzir imagens dos anéis de Júpiter, Urano e Netuno. Revelaram a existência dos primeiros vulcões (em Io, lua de Júpiter), oceanos (em Europa, outro satélite joviano) e atmosfera rica em nitrogênio (em Titã, lua de Saturno) fora da Terra.
Quando as duas naves foram projetadas, mais de quatro décadas atrás, os engenheiros do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (agência espacial americana) não faziam ideia de que elas permaneceriam operantes por tanto tempo, tornando-se recordistas.
Dois fatores foram cruciais para essa façanha. Em primeiro lugar, as baterias de plutônio que seguirão fornecendo energia por pelo menos mais uma década.
Além disso, com a crescente distância da Terra e a consequente dificuldade para captar as ondas de rádio portadoras de dados, a Nasa teve de construir antenas receptoras cada vez maiores no deserto de Mojave. A maior delas tem hoje 70 metros de diâmetro.
Tanto tempo depois de encerrada a Guerra Fria e da concomitante corrida espacial, as Voyagers seguem concretizando o que para muitos constitui o melhor da aventura sideral: missões não tripuladas e relativamente baratas, diante do enorme acervo de dados científicos que legam para os que permanecem com pés na Terra.