Folha de S. Paulo


editorial

Voyager, 40

Nasa - 26.fev.1998/Associated Press
Ilustração da sonda Voyager.1 sobrevoando Saturno. FILE--The Voyager I spacecraft is shown approaching Saturn in an artists rendering from NASA. Voyager 1 won the distinction Tuesday, Feb. 17, 1998, of becoming the most distant man-made object in the universe, surpassing the distance of the older Pioneer 10 spacecraft, the 6.5 billion-mile mark. [AP Photo/NASA]*** NÃO UTILIZAR SEM ANTES CHECAR CRÉDITO E LEGENDA***
Ilustração da sonda Voyager-1 sobrevoando Saturno

Por uma coincidência cósmica, o eclipse solar parcialmente visível no Norte e Nordeste do Brasil nesta segunda-feira (21) ocorreu um dia depois de a sonda Voyager-2 completar 40 anos no espaço —e ainda enviando dados para a Terra, agora sobre o próprio Sol.

A espaçonave lançada em 20 de agosto de 1977 está a quase 18 bilhões de quilômetros (cerca de 16 horas-luz) da Terra. Deverá deixar a heliosfera –área do cosmo sob influência magnética de nossa estrela– nos próximos anos, destino já seguido pela irmã mais nova.

A Voyager-1 partiu da Flórida duas semanas após a Voyager-2, mas seguiu trajetória diversa e dista 21 bilhões de quilômetros (cerca de 19 horas-luz). Deixou o Sistema Solar há cinco anos.

Ambas enviam informações preciosas sobre a interação das partículas emitidas pelo Sol com o meio interestelar. Graças a esses dados, já se revelou que os raios cósmicos são quatro vezes mais abundantes fora da heliosfera, provando que ela atua como um escudo a proteger os planetas dessa radiação.

Antes disso, as sondas gêmeas já haviam acumulado um prontuário sem par de conquistas. A Voyager-2 foi a primeira a sobrevoar os quatro astros exteriores do Sistema Solar: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Juntas, descobriram um total de 24 luas a orbitá-los.

Foram pioneiras em produzir imagens dos anéis de Júpiter, Urano e Netuno. Revelaram a existência dos primeiros vulcões (em Io, lua de Júpiter), oceanos (em Europa, outro satélite joviano) e atmosfera rica em nitrogênio (em Titã, lua de Saturno) fora da Terra.

Quando as duas naves foram projetadas, mais de quatro décadas atrás, os engenheiros do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (agência espacial americana) não faziam ideia de que elas permaneceriam operantes por tanto tempo, tornando-se recordistas.

Dois fatores foram cruciais para essa façanha. Em primeiro lugar, as baterias de plutônio que seguirão fornecendo energia por pelo menos mais uma década.

Além disso, com a crescente distância da Terra e a consequente dificuldade para captar as ondas de rádio portadoras de dados, a Nasa teve de construir antenas receptoras cada vez maiores no deserto de Mojave. A maior delas tem hoje 70 metros de diâmetro.

Tanto tempo depois de encerrada a Guerra Fria e da concomitante corrida espacial, as Voyagers seguem concretizando o que para muitos constitui o melhor da aventura sideral: missões não tripuladas e relativamente baratas, diante do enorme acervo de dados científicos que legam para os que permanecem com pés na Terra.

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