Folha de S. Paulo


editorial

Desencanto amazônico

Divulgação
Amazonino Mendes (PDT) e Eduardo Braga (PMDB), candidatos ao governo do Amazonas
Amazonino Mendes (PDT) e Eduardo Braga (PMDB), candidatos ao governo do Amazonas

Com o primeiro turno realizado neste domingo (6), a eleição suplementar para governador do Amazonas mostrou a distância existente entre o desalento do eleitor e a efetiva renovação política.

O pleito foi marcado por elevada abstenção: 24% dos votantes registrados não compareceram às urnas, bem mais que os já expressivos 19% de 2014. Entre os que participaram do sufrágio, 16% votaram nulo ou em branco, o dobro do percentual anterior.

Ao todo, 849,5 mil amazonenses abriram mão de escolher o governador, contingente não muito inferior ao dos 955,1 mil que optaram pelos candidatos que disputarão o segundo turno –os ex-governadores Amazonino Mendes (PDT) e Eduardo Braga (PMDB).

Mesmo sem empolgar o eleitorado, os dois caciques regionais conseguiram mobilizar suas máquinas políticas e ficar à frente dos outros sete adversários.

Somados os três mandatos de Amazonino e os dois de Braga, o Estado passou 20 dos últimos 30 anos sob o comando desses ex-aliados. Ambos já governaram também a capital, Manaus.

A eleição extemporânea foi motivada pela cassação dos mandatos do governador José Melo (Pros) e de seu vice, Henrique Oliveira (Solidariedade), cuja chapa foi condenada por compra de votos.

O próximo mandatário, qualquer que seja, tampouco estará imune a questionamentos quanto a vícios da política nacional.

Braga, 56, senador e ex-ministro do governo Dilma Rousseff (PT), responde a um inquérito da Operação Lava Jato. Amazonino, 77, colecionou polêmicas em sua longa carreira –entre elas, foi citado em gravações entre os que compraram votos para a emenda da reeleição, em 1997.

No pleito observou-se ainda retrocesso no quesito transparência: alegando prazo insuficiente, a Justiça Eleitoral não divulgou, antes do primeiro turno, a lista dos financiadores de campanha.

De mais interessante, mostrou-se a viabilidade de promover eleição direta em caso de vacância no Executivo, mesmo na segunda metade do mandato. Com ou sem renovação, o vencedor terá mais legitimidade do que teria um nome escolhido pelo Legislativo estadual.

editoriais@grupofolha.com.br


Endereço da página:

Links no texto: