Folha de S. Paulo


Alexandre Ruschi

Operadoras de saúde não desistirão

As operadoras de planos de saúde são teimosas. Enfrentam um cenário difícil -com recessão econômica, redução do número de beneficiários, excessiva burocracia e regulação de suas operações-, mas não desistem de investir em suas atividades e na qualidade dos serviços prestados.

As dificuldades se multiplicam em meio a um debate nacional a respeito dos planos de saúde populares, que incluiriam milhões de pessoas na medicina suplementar, desafogando o sistema público.

Recentemente, fomos desafiados por uma decisão do Congresso Nacional: a cobrança de ISS passará a ocorrer na cidade em que o serviço foi prestado. Isso multiplica a burocracia e, certamente, terá forte impacto nas despesas das operadoras.

Da mesma forma, há uma escalada das multas aplicadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar. De 2012 para cá, somente a Central Nacional Unimed recebeu 8.129 notificações de investigação preliminar. Fomos multados em 301 dos casos e tivemos que desembolsar R$ 19,4 milhões.

Algo totalmente desproporcional, sobretudo se considerarmos a entrega do nosso serviço nesse período: 38 milhões de consultas, 108 milhões de exames, 3 milhões de atendimentos ambulatoriais e 785 mil internações.

Receber uma multa de R$ 124 mil por algo que está sendo resolvido e se refere a uma despesa de R$ 100 parece um despropósito, ainda mais levando em conta que falamos de uma atividade com baixo retorno financeiro. Poucos sabem, mas uma operadora de planos de saúde dificilmente tem lucro operacional superior a 3% ao ano.

A inflação da medicina -que abrange honorários médicos, diárias hospitalares, exames, cirurgias, colocação de órteses e próteses, dentre outros procedimentos- deverá oscilar, neste ano, entre 18% e 20%.

É sempre um desafio fazer a conta fechar no fim de cada exercício, de modo que tenhamos resultados que permitam investimentos e garantam, no caso de uma cooperativa, remuneração justa e adequada aos médicos cooperados.

As multas ocorrem em paralelo à judicialização. Muitos beneficiários são incentivados a buscar o Judiciário antes mesmo de falar com os canais da operadora.

Quem atende beneficiários em todo o Brasil sempre deve melhorar seus processos e suas práticas. Isso é premissa de qualquer negócio. Não há sentido, contudo, em penalizar a operadora em milhares de reais quando ela atua para aperfeiçoar sua operação.

Esses recursos financeiros farão falta na prestação de assistência médico-hospitalar e nos investimentos para melhorar o serviço.

Um pouco mais de bom senso neste aspecto contribuirá para que nossa teimosia se reverta em planos acessíveis a mais brasileiros. Tudo na vida demanda equilíbrio, inclusive as penalidades impostas a quem cuida da saúde de um quarto da população do país.

Ainda assim, afirmo que não vamos desistir.

ALEXANDRE RUSCHI, médico, é presidente da Central Nacional Unimed

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