Folha de S. Paulo


editorial

Informar, não proibir

Francisco Cañedo - 31.mai.2017/Xinhua
(170531) -- CIUDAD DE MEXICO, mayo 31, 2017 (Xinhua) -- Una persona fuma un cigarro en el marco del Día Mundial Sin Tabaco 2017, en la Ciudad de México, capital de México, el 31 de mayo de 2017. El 31 de mayo de cada año, la Organización Mundial de la Salud (OMS) y sus asociados en el mundo celebran el Día Mundial Sin Tabaco con el fin de concientizar sobre los riesgos para la salud asociados con el consumo del tabaco. (Xinhua/Francisco Cañedo) (fc) (da) (fnc)
Pessoa fuma um cigarro

Um julgamento marcado para agosto deverá moldar o futuro da indústria do tabaco no Brasil. O Supremo Tribunal Federal decidirá se a Anvisa —agência de vigilância sanitária— pode impedir fabricantes de usar aromatizantes e flavorizantes nos cigarros.

Embora ainda gere lucros substanciais, a indústria fumígena não dispõe de boas perspectivas de longo prazo. Derivados do tabaco são cada vez mais rejeitados; os consumidores que se mantêm fiéis ao vício tendem a morrer mais cedo.

Diante do quadro, buscam-se mercados em países menos desenvolvidos, onde os cidadãos têm menos acesso a informações e a regulação estatal é mais frágil. Outra estratégia é a diversificação dos produtos para atrair o público jovem.

Nessa seara estão aparelhos que prometem doses de nicotina com menos danos à saúde (benefício sem amparo em evidências científicas) e cigarros com sabor, para atenuar o estranhamento de quem se arrisca nas primeiras baforadas.

A primeira tentativa da Anvisa de proibir aditivos que tornem os cigarros mais tragáveis data de 2012. Como a segurança jurídica é um conceito vaporoso no Brasil, a indústria vem conseguindo contornar o veto com liminares. Após anos de incerteza, o STF finalmente deve julgar o mérito da questão.

Não há dúvida de que a regulação é necessária e resulta em ganhos para a saúde pública.

Parte da impactante queda na proporção de fumantes no país —de 35% dos brasileiros adultos, em 1989, para cerca de 10% atualmente— pode ser atribuída à exigência de que as embalagens estampem informações sobre as consequências do tabagismo.

A Anvisa, contudo, parece dar um passo temerário ao deliberar sobre o sabor dos cigarros. Não se cogita, por exemplo, forçar fabricantes a produzir vinhos e cervejas menos agradáveis ao paladar, embora o uso abusivo do álcool também cause enorme dano social.

Exceto por uma efêmera sensação de prazer, fumo e bebida não trazem benefícios palpáveis e implicam riscos à saúde. Proibi-los, porém, seria equipará-los a drogas ilícitas que não deixam de ser consumidas pela proscrição.

Uma das marcas da civilização ocidental é a busca por um equilíbrio entre liberdade e objetivos sociais, que pressuponha a responsabilidade individual. Será sempre melhor que a regulação se dê por meio do esclarecimento consciente, em vez da mera proibição.

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