Folha de S. Paulo


YUSSIF ALI MERE JR.

Um resgate pelo bem da saúde

Hoje, 14 de julho, a Organização Mundial da Saúde comemora o Dia do Hospital. No Brasil, a ausência de um modelo assistencial integrado e o subfinanciamento da saúde pública vêm, infelizmente, sucateando a estrutura hospitalar brasileira que atende ao SUS (Sistema Único de Saúde). Isso deteriora a imagem dessas instituições.

Assistimos quase diariamente a cenas de filas intermináveis, de corredores lotados, de falta de estrutura e de profissionais; um retrato de absoluto descaso na saúde. Paralelamente, temos no país ilhas de excelência hospitalar comparáveis às melhores do mundo.

A ciência, que desvendou a natureza de várias doenças, e o avanço tecnológico impuseram mudanças profundas no perfil dos hospitais ao longo da história. Eles se transformaram em estruturas caras e complexas. Por isso, não deveriam ser a porta de entrada do sistema de saúde, como acontece hoje.

Mais de 70% dos casos que chegam aos prontos-socorros poderiam ser resolvidos com prevenção, consultas médicas ambulatoriais, cuidados básicos ou informação. A solução disso passa pela construção de uma cadeia assistencial que cuide, oriente e encaminhe o cidadão ao local ideal para seu tratamento. Essa rede precisa ser construída no Brasil.

A ausência de debates e propostas para sanar esse imenso problema não deve impedir outras mudanças que atingirão os hospitais. Em um futuro próximo teremos exames de imagem ainda mais precisos e sofisticados; experiências mostram a viabilidade do uso de células-tronco para tratamento de algumas doenças, principalmente as degenerativas; exames genéticos se tornarão mais acessíveis, abrindo as portas para a medicina individualizada; drogas inteligentes que atuam diretamente sobre o problema, causando menos efeitos colaterais, são apostas certeiras da indústria farmacêutica; e pesquisas já testam a impressão 3D e 4D de próteses, ossos e até células.

A grande revolução no setor, porém, virá do personagem central desse sistema: o paciente. O ritmo acelerado do envelhecimento populacional, o aumento das doenças crônicas e uma preocupação maior com o conceito holístico de saúde –como um completo estado de bem-estar físico, mental e social– exigem novas formas de relacionamento na saúde, bem como soluções tecnológicas e de cuidados que atendam às necessidades das famílias.

A experiência do paciente no ambiente hospitalar, que hoje ainda é um diferencial estratégico de algumas organizações, deve trazer para a prática dos hospitais mais segurança, confiança e humanização da assistência, inclusive na relação com os médicos.

O setor de saúde ganhará imensamente se nesse processo todos os envolvidos conseguirem resgatar a essência do complexo papel social desenvolvido pelos hospitais. Primeiro, como local de cuidados humanizados. Gente que gosta de gente cuidando de pessoas doentes, debilitadas, frágeis, muitas vezes nos momentos finais da vida.

Também como lugar de ensino e pesquisa, protagonizando a introdução de novas técnicas que permitam mais precisão no diagnóstico, no procedimento e que aumentem as possibilidades de cura com mais rapidez, menos sofrimento e mais qualidade de vida.

Ou, ainda, o hospital como coordenador de ações de promoção e prevenção da saúde, se aproximando da comunidade. E, finalmente, por experimentar tantas inovações, os hospitais como polos de desenvolvimento humano, social e econômico.

YUSSIF ALI MERE JR., médico nefrologista, é presidente da Federação e do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (FEHOESP e SINDHOSP).

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