Folha de S. Paulo


editorial

Calmaria econômica

Eduardo Knapp-17.out.2016/Folhapress
SANTOS, SP, 17.10.2016: PORTO-SANTOS - Conteineres coloridos empilhados no pátio do Brasil Terminal Portuário (BTP) no terminal de Santos (SP). (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress)
Contêineres empilhados no pátio do porto de Santos (SP)

Surpreende, até aqui, o modesto impacto do agravamento da crise política na economia, em particular no mercado financeiro.

Prognósticos de turbulência não se realizaram, a despeito do atraso —na hipótese mais benevolente— no cronograma da reforma da Previdência, tema mais essencial da agenda do governo.

Há razões objetivas para a estabilidade. A principal delas é o consenso de que a direção da política econômica deve permanecer intocada, mesmo na hipótese de substituição no Planalto.

Também crucial se mostra a profunda mudança ocorrida nas transações de bens e serviços entre o Brasil e o restante do mundo.

Ao final de 2014, o país acumulava deficit de US$ 104 bilhões nessa conta —que inclui receitas e despesas com comércio exterior, pagamentos de juros, remessas de lucros, viagens e outras operações.

Ao longo de 12 meses até maio, conforme divulgou o Banco Central nesta terça-feira (27), o saldo negativo reduziu-se a pouco mais de US$ 18 bilhões, graças à contribuição decisiva da balança de exportações e importações.

Tal perda de divisas tem sido coberta com folga e segurança pelo ingresso de investimentos estrangeiros na atividade produtiva, que ultrapassaram a casa dos US$ 80 bilhões no mesmo período.

Com esse fluxo confortável, mais reservas de quase US$ 380 bilhões, o país não enfrentou uma disparada das cotações do dólar nas últimas semanas de incerteza.

Inclusive por esse motivo, não se vê ameaça à trajetória de queda acelerada da inflação e, em consequência, dos juros do BC.

Estão mantidas as projeções de algum crescimento mínimo da economia neste 2017, em percentual pouco acima de zero —quase nada após o encolhimento de 8% nos dois últimos anos, mas um começo.

A calmaria é enganosa, porém, e os riscos, crescentes. A crise política atrasa decisões de investimento e enfraquece perspectivas de retomada da economia. A estabilização em patamar tão deprimido nem sequer basta para reerguer a receita e as contas do governo.

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