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Verão europeu

Dúvidas de anos sobre a sustentabilidade do projeto da União Europeia, agravadas pela decisão do Reino Unido de deixar o bloco, começam a dar lugar a prognósticos mais positivos. Às vésperas do início das férias de verão no continente, o clima é de otimismo.

Fundamental para tanto foi a contundente vitória de Emmanuel Macron nas eleições francesas, afastando a ameaça isolacionista representada por Marine Le Pen.

A ampla maioria parlamentar conquistada pelo novo presidente abre uma chance rara para mudanças internas e maior cooperação com os parceiros.

Em paralelo, a UE vive o melhor momento em seis anos na economia. O crescimento chegou a 0,6% no primeiro trimestre (2,4% em valores anualizados) e deve manter um patamar satisfatório.

O Banco Central Europeu mostra que tem confiança na retomada, a ponto de abandonar a indicação de cortes de juros em seu comunicado mais recente. O euro já acumula uma valorização próxima a 5% ante o dólar em 2017.
Apesar do desafio das negociações com o Reino Unido, que se iniciaram formalmente na semana passada, os líderes europeus parecem inclinados a avançar no objetivo de integração.

Com a volatilidade de Donald Trump nos Estados Unidos e o afastamento britânico, entende-se que este seria o momento de olhar para o continente e reforçar o bloco.

Macron quer reformas para melhorar o funcionamento da moeda única. Propõe um Orçamento comum e o fortalecimento de mecanismos para ajudar países em crise.

A ideia não é nova –já havia sido apresentada por seu antecessor, o socialista François Hollande, mas sem obter boa receptividade.

Vinda de um presidente recém-eleito, com clara plataforma pró-Europa e credenciais reformistas, é de imaginar que o plano angarie mais apoio, ao menos inicialmente.

A chanceler alemã Angela Merkel adotou tom conciliador e se disse aberta à ideia, desde que o dinheiro seja usado responsavelmente e haja controle na partilha de riscos no continente.

É um começo positivo, mas Macron precisará dar mostras de que conseguirá arrumar sua própria casa antes. Se for bem-sucedido na prometida reforma trabalhista e na contenção do deficit das contas do governo, deverá conseguir o decisivo apoio da Alemanha.


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