Folha de S. Paulo


Laurent Bili

Uma ponte para estreitar laços

No dia 18 de março, a França e o Brasil inauguraram a ponte que une Amapá e Guiana Francesa, concretizando assim um projeto conduzido há 20 anos pelos sucessivos governos franceses e brasileiros.

Numa época em que outros países tendem a se fechar, nossos países devem se orgulhar de terem construído essa ponte, símbolo de uma visão de futuro partilhado. Um futuro desejado pelas autoridades dos dois lados do Oiapoque e que, no Brasil, contou com o incansável apoio dos representantes eleitos do Amapá.

Após uma longa espera, a abertura dessa ponte representa um grande acontecimento para as populações do Amapá e da Guiana Francesa, que serão as primeiras beneficiadas. Certamente, ainda há detalhes a serem acertados.

Estamos trabalhando especialmente na definição de um dispositivo adaptado no que se refere ao seguro auto, a fim de proteger os motoristas brasileiros que dirigem na Guiana Francesa e os motoristas franceses que dirigem no Brasil.

Para irmos ainda mais longe, assim que as autoridades brasileiras desejarem, a França estará pronta para abrir a ponte diariamente por 24 horas. As obras de conclusão do asfalto da BR-156, entre a fronteira e Macapá, devem começar ainda este ano. São essenciais para permitir o desenvolvimento do transporte de mercadorias e de pessoas.

Em relação aos vistos -obrigatórios para entrar na Guiana Francesa, uma vez que esse território francês não integra o espaço Schengen-, nós continuaremos a trabalhar em estreita cooperação com nossos parceiros brasileiros para facilitar os intercâmbios.

Já demos prova disso ao criar um documento de identidade de fronteiriço que permite a entrada sem visto na zona de fronteira francesa ou ao conceder ao cônsul honorário da França em Macapá o poder de emitir vistos para os habitantes do Estado.

Todavia, a abertura da ponte não deve ser vista como um fim em si mesmo, mas como um estímulo à continuidade e à intensificação de nossos esforços conjuntos em prol de uma cooperação regional cada vez mais forte para o desenvolvimento econômico de nossos territórios e o bem-estar das suas populações.

Por exemplo, o financiamento de projetos de cooperação científica e tecnológica sobre o bioma da Amazônia, por meio do programa Guyamazon, tornou possível a realização de mais de 250 missões de cooperação científica entre a Guiana Francesa e o Amapá, desde seu lançamento em 2011.

No âmbito do ensino, a Embaixada da França e o Instituto Federal do Amapá acabaram de criar dois cargos de leitores de francês, em Macapá e em Oiapoque. Na Guiana Francesa, onde vivem 11 mil brasileiros (terceira comunidade estrangeira no local), o Ministério francês da Educação financia há anos nove cargos de assistentes linguísticos para reforçar a aprendizagem do português.

Estou convencido de que em um futuro próximo essa ponte será uma oportunidade para estendermos o intercâmbio não apenas entre nossos países, mas alcançando também o planalto das Guianas, com nossos vizinhos comuns do Suriname e da Guiana.

LAURENT BILI é embaixador da França no Brasil desde 2015

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