Folha de S. Paulo


editorial

Incerteza eleitoral

A primeira-ministra britânica, Theresa May, dava mostras de compensar a pouca destreza nos palanques com a habilidade nos bastidores do poder. Seus pontos fracos, entretanto, têm sobressaído à medida que se aproximam as eleições marcadas para a próxima quinta-feira (8).

May assumiu o posto quase um atrás, no cenário turbulento que se seguiu à decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia. Conseguiu consolidar-se como liderança capaz de substituir o também conservador David Cameron, derrotado no plebiscito do Brexit.

Contrariando as expectativas da maior parte dos economistas, a decisão de abandonar o bloco continental não lançou o país numa recessão instantânea.

Constata-se, pelo contrário, que a confiança do consumidor não foi abalada, e o PIB se manteve em crescimento satisfatório para o padrão dos países ricos.

Os salários médios subiram 2,2% no ano passado, e o desemprego está em confortáveis 4,5%. Parecia, enfim, o cenário ideal para qualquer governo disputar eleições.

Até alguns dias atrás, as pesquisas corroboravam a impressão de que fora acertada a decisão de May de antecipar o pleito nacional. Projetava-se um vitória conservadora com larga vantagem sobre os rivais trabalhistas.

A mudança operou-se com a campanha eleitoral. Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, adotou uma retórica mais à esquerda, o que contentou parte importante do eleitorado. Embora passe longe do brilhantismo em debates e discursos, ele esquivou-se de erros mais graves até o momento.

O mesmo não se pode dizer de May. Além das dificuldades diante das câmeras e no contato com o público, passou impressão de excessiva inconstância ao promover modificações importantes em seu plano de reformas na assistência social quatro dias depois de anunciá-lo.

O fato ensejou que outras mudanças bruscas em suas posições fossem relembradas, como em relação à saída da União Europeia e à antecipação de eleições (a atual premiê era contrária a ambas). Colou-se em sua imagem a etiqueta de pouco resoluta, com claro impacto nas pesquisas de voto.

Os conservadores ainda são tidos como favoritos, mas já se estima que os trabalhistas conquistarão mais cadeiras no Parlamento do que o previsto inicialmente. Isso, é claro, se as pesquisas não estiverem mais uma vez equivocadas, como já ocorreu com as que previam a derrota do Brexit.

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