Folha de S. Paulo


ANDRÉ STURM

Virada Cultural para todos

A Virada Cultural foi um dos grandes acertos de São Paulo. Iniciada em 2005, tornou-se tão parte da cidade que é tema de qualquer gestão, sendo reproduzida em diversos municípios do Estado e do país. Contudo, ao longo dos anos, modificações foram introduzidas.

Aos poucos, transformou-se num evento majoritariamente de música, com grandes palcos e grandes shows no centro da cidade. Em alguns anos, houve tentativas de alguma descentralização, mas sem alterar a base do projeto.

Algumas reclamações eram comuns, como gasto excessivo num evento de apenas 24 horas e falta de segurança e conforto.

Decidimos, então, fazer algumas alterações com o objetivo de atender a esses pontos, mas não só. A Virada precisa ser um evento da cidade. Para isso, é importante descentralizar e diversificar as atrações, ampliar seu alcance.

Recuperamos o espírito original -trazer as pessoas para conhecer o centro e não apenas para assistir a um grande show. Tiramos, assim, os palcos grandes dessa região. Introduzimos o conceito de tablados. A rua torna-se o palco.

Criamos circuitos em algumas ruas e convidamos as pessoas para visitá-los. No trajeto, encontrarão artistas das mais diversas linguagens em 30 tablados, sempre iluminados, com gente circulando, opções de alimentação e infraestrutura.

Num esforço inédito de valorização dos espaços independentes da cidade, fizemos uma parceria com cerca de 50 teatros e quatro lonas de circo, oferecendo gratuitamente à população ingressos de suas sessões no fim de semana da Virada.

Teremos quatro locais, um em cada região da cidade, com os palcos grandes e artistas conhecidos. Fora isso, haverá extensa programação paralela em bibliotecas, casas de cultura, centros culturais e teatros da prefeitura.

Nesta edição não teremos, como nos anos anteriores, altos cachês para os artistas. Com essa otimização dos recursos públicos, conseguimos organizar quase 900 atrações.

Ouço pessoas reclamarem que os palcos grandes estão "longe". Como assim? Longe de quem? Talvez de quem mora em Higienópolis ou Jardins e se acostumou a ir ao centro, uma vez ao ano, ver shows gratuitos. Mas para quem mora em Arthur Alvim ou Parque do Carmo, os palcos estão longe?

Quem mora em M' Boi Mirim demora quase duas horas para chegar ao centro de carro ou ônibus. À praça do Campo Limpo, onde ficará um dos palcos, leva uns 30 minutos.

Eu poderia dar muitos outros exemplos. Será que os moradores dos bairros distantes não preferem assistir a atividades culturais mais perto de casa?

E quem mora no centro poderá conhecer melhor sua cidade. Basta pegar o metrô, que ficará aberto 24 horas, e procurar espetáculos de qualidade em outras regiões.

Ao incluirmos os equipamentos da Secretaria Municipal de Cultura, as lonas e os teatros independentes, queremos que a população conheça esses espaços. E, ao longo do ano, retorne a eles. Que a cultura faça parte do dia a dia, não apenas uma vez por ano.

Nesta edição, 75% da programação saiu de um chamamento em que artistas de todos os tipos se inscreveram. Todas as linguagens estão representadas. Mais atrações, mais locais, descentralização, diversidade, equipamentos públicos, cachês menores. Onde está o elitismo?

Convido todos a participarem dessa grande festa democrática de nossa cidade.

ANDRÉ STURM, cineasta, é secretário municipal de Cultura de São Paulo

PARTICIPAÇÃO

Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@grupofolha.com.br


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