Folha de S. Paulo


Francisco Soares Brandão

Pacificar o Brasil

O Brasil vive tempos difíceis. Temos dificuldades econômicas, vindas de um desequilíbrio fiscal crônico e da baixa produtividade.

E temos graves dificuldades políticas, decorrentes de um problema central: a divisão radical entre os brasileiros dificulta a governabilidade e a construção de maiorias estáveis, capazes de legitimar as soluções para superar os graves desafios.

Saímos de um governo que não tinha mais apoio popular e parlamentar. A história fará o julgamento definitivo dos episódios recentes, quando a poeira tiver baixado e a paixão do momento der lugar a mais racionalidade. Agora, há um novo governo, que leva a vantagem de um sólido apoio no Congresso. E vai usar esse apoio para aprovar projetos que o Brasil espera há tempos.

É natural que os grupos desalojados se organizem na resistência ao novo status quo, e isso implica combater as medidas propostas.

Mas é também verdade que o governo anterior propunha suas próprias reformas nos pontos nevrálgicos das relações de trabalho e da Previdência Social.

Como, infelizmente, não conseguiu implementá-las, a missão passou para o sucessor, que está completando a tarefa de mudanças estruturais para o bem do Brasil.

Acredito que avançar em soluções majoritárias não é apenas necessário mas também possível. Em certo grau, pode ser interessante para todas as facções. Se uns estão hoje no governo e precisam entregar prosperidade e bem-estar, virá o dia da alternância de poder, e será bom que quem chega encontre a casa mais arrumada, ou menos desarrumada.

Governos sábios impulsionam suas medidas para atingir suas metas, mas cuidam também de não fechar os canais de diálogo com o outro lado. O próprio presidente Michel Temer já disse, mais de uma vez, que o papel da oposição é ajudar a governar. Sem, naturalmente, abrir mão de sua identidade e do objetivo de chegar ao poder.

Não é obrigatório que as necessárias reformas sejam impostas num ambiente de beligerância sem limites. Até porque o elástico que é esticado demais um dia pode voltar com força igual. O que é imposto apenas pela força tem menos perenidade. Nossos problemas são estruturais, precisam ser solucionados com permanência.

O governo Temer está trabalhando para reunir no Congresso a força necessária e passar suas propostas. É, aliás, sua obrigação como governo. Isso, porém, não substitui o imperioso diálogo com quem terá seus direitos atingidos. Nenhum lado tem sempre o monopólio da razão. Não será possível chegar ao mesmo objetivo econômico com concessões que aliviem a pressão na panela?

Depois de anos de recessão e conflitos, o Brasil precisa de pacificação. Esperamos que ela venha depois de 2018, quando definiremos que rumos queremos para nosso país, em eleições que esperamos livres e amplamente representativas das diversas visões da sociedade.

Mas não precisamos esperar até lá. Minha esperança, quase uma utopia, é que consigamos começar a pavimentar esse caminho já agora.

FRANCISCO SOARES BRANDÃO, empresário, é sócio fundador da FSB Comunicação

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