Folha de S. Paulo


editorial

Eleições na ilha

Iniciado oficialmente no mês passado, o processo de saída do Reino Unido da União Europeia envolverá difíceis negociações nos próximos dois anos, prazo legal para a celebração de um acordo.

Tal como a vitória do Brexit no referendo de junho do ano passado, o processo tende a proporcionar surpresas —a mais recente delas, a decisão da primeira-ministra Theresa May de convocar eleições antecipadas, depois de negar nas semanas anteriores tal intenção.

Com isso, os britânicos irão às urnas em 8 de junho próximo, e a premiê evita um escrutínio em 2020, desconfortavelmente próximo da esperada conclusão do acordo com a UE.

May pretende reforçar sua posição no Parlamento e obter um mandato mais forte para as negociações. As pesquisas mais recentes indicam liderança confortável dos conservadores frente à oposição trabalhista, que pode ter sua pior votação em décadas.

Outro potencial benefício seria reduzir a influência de facções, no próprio partido governista, capazes de criar dificuldades para a condução futura do Brexit.

De um lado, há grupos mais radicais, que desejam uma saída rápida, mesmo ao custo da perda de acesso de produtos ingleses ao mercado europeu.

De outro, defensores da permanência na UE ainda alimentam a esperança de que complicadores nas negociações possam afetar os humores da opinião pública.

Se o resultado eleitoral for o previsto nas pesquisas, aumenta a chance de uma transição menos atribulada e sem o trauma de um súbito fechamento da Europa para as empresas do Reino Unido.

Essa foi, por exemplo, a interpretação predominante no mercado financeiro —que promoveu, de imediato, uma expressiva valorização da libra esterlina.

As incertezas pela frente não se limitam, contudo, ao desfecho do pleito na ilha. Os entendimentos de fato só começarão após as eleições na França, nas próximas semanas, e na Alemanha, ao final do ano.

Há outros assuntos espinhosos, como a conta a ser paga pelo país em face de suas obrigações atuais com a UE, além do prazo remanescente de jurisdição da Corte Europeia de Justiça, temas caros aos partidários do Brexit.

Trata-se da maior mudança constitucional do pós-guerra, e em prazo exíguo. Não surpreende que, nesse quadro, May só queira encarar os eleitores de novo em 2022.

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