Folha de S. Paulo


editorial

Doações paulistanas

Quanto custou a célebre publicidade do programa Cidade Linda, uma das bandeiras do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), exibida nos gramados onde a seleção brasileira enfrentou os times do Uruguai e do Paraguai?

Para os cofres da prefeitura, nada. Tratou-se de doação efetuada por uma rede de farmácias, cujo valor preciso permanece desconhecido. Há apenas uma estimativa, de R$ 245 mil, recém-publicada, sem maiores esclarecimentos, no endereço eletrônico do município.

O caso ilustra boa parte dos questionamentos suscitados pela ofensiva do tucano em busca de contribuições privadas a sua gestão —além de dúvidas quanto a cifras e condições acertadas, não parece claro o que um programa local de zeladoria tem a beneficiar-se da propagação nacional de sua marca pelas redes de TV.

Nada há de errado, ressalte-se, em pedir recursos, nem mesmo em fazer praça dos montantes obtidos. Pelo contrário: a ajuda de empresas e cidadãos pode ser valiosa para a administração pública e a própria cultura democrática.

Entre os paulistanos, porém, há grande dose de desconfiança quanto à iniciativa do prefeito. Segundo pesquisa Datafolha, 45% consideram as doações nada transparentes, e apenas 16% demonstram plena satisfação com a clareza dos dados e propósitos divulgados.

Quem procurar por valores nos meios digitais da prefeitura terá dificuldade em entendê-los. Nesta quarta-feira (19), uma planilha listava contribuições, nem todas acompanhadas por números, que somavam R$ 15,8 milhões; outra, mais alentada, estimava o total recebido em R$ 286,8 milhões.

O noticiário dos últimos dias explica a diferença: a primeira cifra refere-se a doações já efetivadas, mesmo quando não há custo oficialmente calculado (caso da propaganda do Cidade Linda).

A segunda, providenciada às pressas nesta semana, inclui doações prometidas ou esperadas, além de cálculos aproximados dos montantes —e assim chega-se aos valores apregoados por Doria em entrevistas e mensagens públicas.

Sempre se pode argumentar que informações precárias são melhores que nenhuma informação. Nada indica, ademais, que tenham sido descumpridas as normas formais em vigor para a coleta e a publicidade das doações.

Entretanto, se pretende persistir na busca do dinheiro privado, como deveria, o prefeito terá a ganhar com a fixação de procedimentos mais cuidadosos e compreensíveis. Menos açodamento midiático seria também recomendável.

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