Folha de S. Paulo


Wilson Risolia

A insensatez na educação brasileira

Será que no Brasil entendemos educação como um ativo estratégico?

A resposta a esta simples pergunta é: Não!

Recentemente fomos confrontados com mais um resultado do Pisa. Não bastasse o constrangimento causado pelos resultados do Ideb, ainda temos que assumir nossa total incapacidade de lidar com um assunto de tão importante relevo.

Talvez a sociedade não tenha se dado conta da gravidade do problema; afinal, os jornais e TVs pendem para um noticiário político-policial; o que é ainda mais constrangedor.

Mas talvez isso explique muitos dos problemas que enfrentamos na educação brasileira.

Alguém ouviu algum parlamentar comentando os resultados? Alguém viu algum parlamentar constrangido, à frente da TV, com o tal do Pisa?

Alguém viu ou ouviu falar de manifestações contra ou a favor dos resultados?

Alguém viu alguma manifestação da direita, centro ou esquerda? A resposta também é não!

Vejamos o que fomos capazes de fazer com nossas crianças e jovens.

Entre 70 países, estamos na 59ª posição em leitura. Em ciências, 63º. Em matemática, 66ª.

O orçamento da educação vem crescendo ano-após-ano por mais de uma década; em contrapartida a este espetacular investimento, os resultados são no mínimo estarrecedores.

Estamos atrás de países como Chile, México, Costa Rica, Uruguai.

Vamos entender melhor o que produzimos?

Mais de 50% dos alunos estão abaixo do nível básico de aprendizagem em leitura, ciências e matemática.

Sete de cada dez alunos, na faixa de 15 anos, estão abaixo do nível 2 de proficiência em matemática...

Em ciências, pouco mais de 40% atingiram pelo menos o nível 2.

Em leitura, 51% estão abaixo desse mesmo nível.

No intervalo de 2012 até hoje, as diferenças são estatisticamente irrelevantes, mas, para não dizer que não fizemos nada de novo, pioramos em matemática.

Difícil imaginar que em pleno século 21 e com os problemas que insistem em assolar nosso país ainda não tenhamos um projeto de Estado para educação.

Difícil imaginar que somos incapazes de projetar um futuro melhor para nossas crianças e jovens, enquanto ainda somos um país de jovens.

Boas medidas para reformar a educação foram anunciadas, mas viraram conversa de botequim.

Hoje, por exemplo, qualquer um se atreve a discutir sobre o novo ensino médio - que parece ter virado uma panaceia enquanto o que se deseja é aplicar a obviedade de ações corretivas a uma etapa de ensino notadamente falida e não comparável com qualquer outro sistema do mundo moderno.

É o que chamamos de jabuticaba! Mais uma...

Enfim, o que resta como certeza nesse mundo de insensatez é: ou o país trata a educação como ativo estratégico ou veremos uma sociedade em estado avançado de deterioração.

Casos de estupros, violência contra mulheres, homofobia, população carcerária aumentando, elevados índices de gravidez infantil, corrupção, inversão de valores, atentados contra o patrimônio, desrespeito às regras e leis...

Qualquer semelhança é pura coincidência.

WILSON RISOLIA é líder da Falconi Educação - frente da consultoria voltada para a área. Foi secretário de Estado de Educação do Rio de Janeiro (governo Sérgio Cabral)

PARTICIPAÇÃO

Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@grupofolha.com.br


Endereço da página:

Links no texto: