Folha de S. Paulo


editorial

Sul

Uma tragédia marcou para sempre o Programa Antártico brasileiro: em 2012, um incêndio destruiu 70% da Estação Antártica Comandante Ferraz. Dois militares da Marinha morreram no acidente.

O desastre não interrompeu o esforço, iniciado nos anos 1980, de manter uma base nacional permanente no continente mais austral. Módulos emergenciais (contêineres) foram adquiridos para montar uma estação provisória, enquanto se projetava uma nova.

Venceu o concurso arquitetônico o projeto arrojado de um escritório de Curitiba, Estúdio 41. O novo prédio de aço, com 4.500 m² e 17 laboratórios, será erguido pela empresa chinesa Ceiec ao custo de US$ 99,6 milhões.

Uma equipe precursora da China iniciou a obra na terça-feira (13), como noticiou esta Folha. Sua primeira tarefa consiste em erguer um alojamento e construir um atracadouro para desembarcarem mais meia centena de trabalhadores e o material para implantar as fundações da nova estação.

Os módulos já foram parcialmente construídos na China. Serão montados apenas no próximo verão antártico, de novembro de 2017 a março de 2018, quando a base será inaugurada —se nenhum impedimento meteorológico surgir, uma possibilidade sempre presente no extremo sul do planeta.

O contribuinte brasileiro poderá perguntar-se se faz sentido despender o equivalente a R$ 330 milhões, em valores atuais, em meio à grave situação das contas públicas, para manter esse posto avançado na Antártida. A resposta é sim.

Realizar pesquisas de alto nível na região austral constitui uma precondição para o Brasil, ou qualquer outro país, permanecer como membro consultivo do Tratado Antártico, de 1959. Vale dizer, para manter direito a voto nas decisões sobre o futuro do continente.

A Antártida é hoje um espaço internacional, e nenhuma atividade econômica ou militar pode ser realizada ali. Todas as pretensões territoriais foram suspensas pelo tratado. O continente está reservado para fins pacíficos, estudos científicos e preservação ambiental.

Nada garante que vá permanecer assim para sempre. Em algum momento os membros do tratado poderão admitir atividades de mineração, por exemplo. Ademais, o continente gelado é crucial para a formação das massas de ar que condicionam o clima no Brasil.

Conhecer a Antártida e participar da definição de seus destinos representa um interesse estratégico do país. Uma base definitiva e segura é a forma adequada de persegui-lo.

editoriais@grupofolha.com.br


Endereço da página:

Links no texto: