Folha de S. Paulo


editorial

Mapa dos acidentes

As cenas denotam bem o quadro geral de insegurança e precariedade no trânsito. Uma mulher com bebê de colo tentava passar por faixa de travessia parcialmente apagada e esburacada, em cruzamento de intenso movimento que não dispõe de semáforo para pedestres.

Em outro ponto, nem mesmo funcionários da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) inibiam motoqueiros que ultrapassavam o sinal vermelho, um ciclista pedalando na contramão e pedestres avançando sobre os carros.

As situações relatadas por reportagem desta Folha tiveram vez na avenida Interlagos, que concentrou o maior número de mortes em acidentes de trânsito em São Paulo de agosto a outubro deste ano.

Nesse período, houve sete vítimas fatais na avenida. Outras três vias da zona sul da capital estão entre as mais perigosas da cidade: avenida Senador Teotônio Vilela e as estradas de Itapecerica e do M'Boi Mirim registraram, cada uma delas, cinco mortes.

À parte o título nada honroso, a situação que se verifica no local não difere tanto da de outros pontos da cidade em que a soma de sinalização precária e comportamento imprudente também acarreta número expressivo de óbitos.

Esses exemplos de selvageria, ademais, são comuns em todas as regiões do país, conforme atesta relatório da OMS (Organização Mundial de Saúde) divulgado em maio. O Brasil apresenta uma taxa de 23,4 mortes no trânsito para cada 100 mil habitantes, quarto pior desempenho do continente americano, atrás apenas de Belize, República Dominicana e Venezuela.

Nesse quadro desfavorável, São Paulo tem conseguido resultados positivos. De janeiro a outubro deste ano, em comparação ao mesmo período de 2015, as mortes no trânsito no Estado passaram de 5.079 para 4.786, queda de 6%. Na capital, contabilizou-se em 2015 uma redução de 20,6% ante 2014.

Atribuiu-se o êxito a fatores diversos, como crise econômica (que restringiria os veículos em circulação), diminuição dos limites de velocidade e maior fiscalização.

Vai nesse sentido, por exemplo, a plataforma InfoMapa, lançada pelo governo do Estado na semana passada, que informa o exato local das mortes no trânsito em todos os municípios de São Paulo, possibilitando o estudo detalhado dos pontos mais críticos.

O governo paulista prometeu reduzir pela metade todos os acidentes de trânsito no Estado até 2020. Há um longo caminho a percorrer, o que demandará mais esforços na sinalização das vias e nas políticas educativas e de prevenção.

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