Folha de S. Paulo


Liliana Ayalde

EUA e Brasil, relação forte e profícua

Já com saudades no coração, preparo-me para deixar o Brasil. Vejo entre as duas maiores economias democráticas do continente uma relação que, além de duradoura e sólida, é também estratégica e abrangente. Somos dois povos com superlativas semelhanças, diferenças contornáveis e uma visão comum do futuro global.

Nossa empatia é resultado de laços culturais profundos. De compromissos com a liberdade e os direitos humanos. De um comércio bilateral robusto voltado para o crescimento econômico sustentável. Bem como de um empenho constante em garantir a segurança dos nossos cidadãos onde quer que eles vivam.

Temos uma atração natural uns pelos outros. Tanto que só durante a Olimpíada e Paraolimpíada mais de 100 mil americanos estiveram no Brasil para curtir uma paixão comum aos dois povos: o esporte.

Destaco a elogiada cooperação em segurança entre os dois países durante os Jogos, que contribuiu para manter seguros nossos cidadãos e os visitantes do mundo todo. Foi inesquecível torcer para o Team USA e os atletas brasileiros e ver de perto o trabalho dos organizadores, voluntários e equipe da segurança.

Também compartilhamos o compromisso em construir um mundo melhor para nossos povos e para toda a população do planeta. Para isso, o papel e a influência do Brasil são essenciais, como mostra nossa parceria em um leque variado de questões vitais: não proliferação de armas nucleares; segurança e o desenvolvimento do Haiti; combate à propagação do vírus zika e outras doenças; a luta contra o crime organizado transnacional.

Foi com orgulho que nos juntamos a mais 193 países no acordo do clima no ano passado em Paris e na sua ratificação neste ano em Marrakech, visando a preservar o planeta para as próximas gerações.

De olho no futuro, vejo inúmeras oportunidades para tornar a nossa relação ainda mais forte e profícua. Queremos -e seremos- parceiros preferenciais do Brasil no comércio e nos investimentos. Muitas das maiores empresas americanas atuam no Brasil há mais de um século.

Nossas universidades são enriquecidas pelos estudantes estrangeiros, incluindo mais de 19 mil brasileiros. Nossos povos são gente que cria e inova -seja no Google em Belo Horizonte ou numa startup em São Paulo, assim como nos muitos centros binacionais à frente do Movimento Maker.

Podemos e devemos continuar a cooperação para enfrentar os cruciais desafios atuais. Das atrocidades na Síria ao drama dos refugiados no mundo. As questões regionais são igualmente complexas e demandam atenção. Partilhamos da mesma opinião sobre a necessidade de que a voz do povo seja ouvida e atendida na Venezuela e que a Colômbia encontre, finalmente, o caminho da paz duradoura.

Lembro-me de um amigo brasileiro que me disse: "Sabemos de que lado estamos". Estou feliz por saber que os Estados Unidos e o Brasil estão do mesmo lado. Unidos, acima de tudo, pelos mesmos valores.
A nossa parceria vai além da política. Como tem sido sempre, a relação com o Brasil continuará sendo parte fundamental do nosso engajamento em política externa.

No momento em que me preparo para deixar esta linda terra que foi o meu lar nos últimos três anos, despeço-me de amigos e colegas maravilhosos, com a certeza e a satisfação de que o nosso trabalho tem estreitado os vínculos que unem nossos dois países.

E, creiam-me, como fui embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, vejam-me também, agora, como uma embaixadora do Brasil nos Estados Unidos. Muito obrigada, Brasil. E até logo mais.

LILIANA AYALDE é é embaixadora dos EUA no Brasil. Foi subsecretária de Estado adjunta para Assuntos do Hemisfério Ocidental nas relações bilaterais dos EUA com Cuba, América Central e Caribe

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