Folha de S. Paulo


RODRIGO ROLLEMBERG

Um novo lago, uma nova Brasília

Lançamos nesta quinta (8), não temo dizer, o mais ousado projeto para a capital do país desde a sua construção no Planalto Central: o Brasília Orla Livre. O projeto revolucionará a experiência do morador ou do turista com o lago Paranoá.

Mais que um conjunto de ações, o Brasília Orla Livre materializa uma política de ocupação ordenada e planejada das margens do lago ao longo de 38 km de extensão, tamanho superior à soma das praias de Copacabana, Arpoador, Ipanema e Barra da Tijuca.

Um espaço público que chegou a ser usufruído apenas por pequena parcela da população será agora devolvido a cada cidadão.

A construção desse novo relacionamento com o lago Paranoá começa com uma consulta pública por 30 dias. Qualquer um, por meio do site www.orlalivre.df.gov.br, poderá manifestar como usa ou gostaria de usar a orla.
As sugestões passarão por análise técnica e, dependendo da relevância, poderão ser incorporadas ao Termo de Referência do Concurso Internacional que selecionará projetos de ocupação sustentável da orla e propostas de mobilidade a quem quiser passear pelo lago.

Escritórios de arquitetura e urbanismo do Brasil e do exterior são bem-vindos ao concurso, cujas regras estão disponíveis também no mesmo site da consulta.

As propostas para conciliar a preservação do lago Paranoá com atividades esportivas, de turismo e lazer e empreendimentos comerciais serão avaliadas por banca julgadora, integrada por representantes do governo e da sociedade civil.

Mudar o lago é mudar Brasília -um não existe sem o outro. Idealizados juntos desde a Missão Cruls, no século 19, ganharam concretude pelas mãos de Juscelino Kubitschek. O lago contribuiu para garantir umidade à capital e a cada dia se transforma em destino de práticas de esporte e lazer do brasiliense.

As mudanças com que sonhamos intensificarão ainda mais essa convivência. Traremos segurança e conforto para o uso de suas águas e margens. Queremos um lago símbolo de preservação ecológica, livre de ocupação irregular, de ligações clandestinas de esgoto ou assoreamento.

Desde que assumimos, enfrentamos interesses privados para abrir o acesso ao lago, um bem de direito de todos. Em alguns trechos retiramos piscinas, churrasqueiras, saunas instaladas em áreas de preservação. A agência de fiscalização desobstruiu 231,7 mil metros quadrados de terras públicas.

Depois de cinco décadas de agressões, descasos, apropriações indevidas, o lago está pronto para ser a praia de Brasília. A minha proposta para essa mudança bem-sucedida é a humildade. Primeiro, em reconhecer o esforço de governos anteriores para tornar o Paranoá o único lago urbano tropical despoluído no mundo.

Humildade também para pedir engajamento de quem teve área desobstruída. Quero propor, agora, a consciência pelo bem comum. Vamos discutir com esses moradores como usar o espaço de forma ordenada e segura.

Mais uma vez, humildade para dizer que o lago não pode ser objeto de conflito entre ricos e pobres. Existem espaços específicos para atividades comuns e uso de todos. Nosso desafio é definir quais atividades desenvolver na orla. De resto, é um desafio para toda sociedade e uma certeza de que o projeto Orla Livre significará um salto civilizatório para Brasília.

RODRIGO ROLLEMBERG é governador de Brasília (PSB). Foi deputado federal e senador

PARTICIPAÇÃO

Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@grupofolha.com.br


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