Folha de S. Paulo


editorial

Promessa e realidade

Finda a campanha, todo candidato eleito ajusta suas promessas à realidade. As propostas imprecisas ou inexequíveis, ainda que toleradas na disputa como parte do jogo político, cedo ou tarde serão confrontadas por questões concretas que escapam ao marketing.

No programa do prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), nada instigou mais controvérsia do que a aventada elevação da velocidade máxima nas avenidas marginais dos rios Tietê e Pinheiros.

A proposta, reiterada durante toda a campanha, é passar o limite de 70 km/h para 90 km/h na pista expressa, de 60 km/h para 70 km/h na central e de 50 km/h para 60 km/h na local.

A diminuição das velocidades máximas nas marginais, determinada pelo prefeito Fernando Haddad (PT) no ano passado, acarretou redução de 52% nos acidentes com mortes. A cifra despencou de 64 casos, de julho de 2014 a junho de 2015, para 31, nos primeiros 12 meses de vigência da regra.

A promessa de Doria foi vista por muitos como um retrocesso nas tentativas adotadas pelo município, na última década, para melhorar a segurança de motoristas e pedestres e para incentivar o transporte público, em desestímulo ao transporte individual por automóveis, criando assim condições para melhorar a fluidez do tráfego.

Os que se alarmaram na campanha têm agora algum alívio com o anúncio de que Sérgio Henrique Passos Avelleda, ex-presidente da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e do Metrô, será o secretário municipal de Transporte da próxima gestão.

A escolha de um nome alinhado ao transporte coletivo e à mobilidade ativa (andar a pé ou de bicicleta, por exemplo) parece uma sinalização de Doria para aplacar temores quanto à sua gestão no setor.

O primeiro pronunciamento do secretário após a confirmação do convite, na quinta-feira (10), foi nessa direção. Avelleda prometeu retomar o programa educativo de proteção ao pedestre implementado no mandato de Gilberto Kassab (PSD), depois descontinuado por Haddad, e aprimorar a condição das calçadas na capital.

O futuro secretário ainda destacou, no que alguns tomaram por uma crítica velada ao prefeito eleito, que o valor fundamental a preservar no trânsito é a vida.

Se soa prematuro contar com um recuo de Doria no aumento das velocidades máximas, ao menos sai fortificada a expectativa de que decisões sobre o trânsito paulistano se baseiem de ora em diante mais em razões técnicas do que em promessas demagógicas.

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