Folha de S. Paulo


SINVAL LEÃO

Das primaveras que não voltam mais

Como as Primaveras de Praga, Lisboa e do Cairo, que animaram o mundo em 1968, 1974 e 2011, respectivamente, a estação mais bonita do ano ajuda a pensar no que vem pela frente e levanta a perplexidade entre a esperança e a tempestade.

A primavera anuncia para o Brasil mais situações de dúvidas que de certezas, a começar pela Bienal de São Paulo em cartaz até dezembro, com o título de "Incerteza Viva". Eleitores voltarão às urnas no dia 30, num jogo sujo, sem saber se vale o corrupto caixa 2 ou se as doações de campanha sairão como os legisladores as definiram.

Por fim, a dúvida das dúvidas: as eleições municipais mostrarão o Brasil com expectativas melhores para 2018?

A imprensa, como é sabido, erra mais do que devia na pauta previsibilidade. Isso vale para a Lava Jato. Conseguirá a operação enquadrar criminalmente a corrupção -que muitos querem chamar de advocacia administrativa- perpetrada por mandatários, políticos sem mandatos, empresários sem moral e uma corja de laranjas?

O jornalismo brasileiro tem um papel bem claro no pós-impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Tal qual o conhecemos pelo iluminismo, seja para o bem ou para o mal, fazer jornalismo é lidar com o contraditório. Lidar com diversidade. Cabe ao jornalismo levar à sociedade e, por conseguinte, aos consumidores de mídia as versões da realidade, para que eles façam suas próprias escolhas.

Mas o jornalismo tem outras dimensões além da informativa. Entre elas, talvez prime a educacional. Imprensa educa, inclusive pacifica pela educação.

O Brasil entra está dividido nessa primavera. Não dividido por pensamentos diferentes, mas pelo ódio de militantes partidários contra seus opositores, de tribos contra clãs, de amigos contra companheiros. Esse clima impera mesmo entre familiares.

Roberto Drummond, um dos mais insignes jornalistas e escritores mineiros, dizia que "o homem não é um, é meio". O jornalismo, de forma bastante apropriada, ilustra a assertiva do autor de "Hilda Furacão".

Os veículos de comunicação são meio, medium, mídia. Apurar com rigor o noticiário político já seria o maior serviço que a imprensa brasileira daria ao país. A verdade pacifica, faz cidadãos mais proativos.

No dizer da ministra Cármen Lúcia, atual presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), "a imprensa é a janela aberta que permite ter notícia de tudo o que se passa, às vezes na nossa própria casa, mas que não somos capazes de ver com a celeridade que nós deveríamos ver".

A liberdade de imprensa é essa janela para a democracia. No STF, no Congresso, no Planalto, nas ruas, nas Redações, nos bares da vida e em nossas casas. Liberdade é o outro nome de primavera.

SINVAL LEÃO, jornalista, é fundador e diretor da revista e portal "Imprensa"

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