Folha de S. Paulo


YUSSIF ALI MERE JR.

Saúde, prioridade de São Paulo

O prefeito eleito de São Paulo, João Doria, prometeu em sua campanha que a saúde seria a prioridade de seu governo. Em breve poderemos verificar se de fato a meta será cumprida. Temos tudo para acreditar que sim.

Alguns indicadores atestam a complexidade de gerenciar a saúde da maior cidade do país. Segundo a prefeitura, 4,3% das crianças que nascem na zona leste da capital morrem antes de completar um ano, contra 1,5% das nascidas na região centro-oeste na mesma faixa etária.

Também se morre mais por complicações do diabetes antes dos 60 anos na região sul (23%) do que na sudeste (13,9%) -discrepâncias inconcebíveis para uma cidade rica como São Paulo.

Essa é uma área que exige planejamento e, acima de tudo, excelente gestão. São Paulo destina cerca de R$ 9 bilhões por ano para cuidar da saúde de seus 12 milhões de habitantes. Isso dá um investimento público per capita de R$ 750.

Ocorre que 52% dos paulistanos, mais precisamente 6,2 milhões de pessoas, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), possuem um plano de saúde. Temos, portanto, cerca de 5,7 milhões de dependentes única e exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS).

O investimento público per capita no SUS é maior, já que a porta de entrada da assistência para os que possuem saúde suplementar dificilmente é o serviço público, apesar de todos os cidadãos brasileiros terem direito a ele. Esse investimento beira os R$ 1.500. Com esses recursos certamente é possível fazer mais, melhorar a qualidade e, principalmente, o acesso dos paulistanos aos serviços.

A iniciativa privada pode e deve cooperar com a saúde pública. Talvez São Paulo não necessite de novos hospitais, construções caras que acabam por criar novas demandas orçamentárias. É possível estabelecer convênios com estabelecimentos privados em muitas áreas.

Isso possibilitaria a criação de diversas redes, que seriam divididas por regiões da cidade e responderiam pelos cuidados assistenciais, dos primários aos terciários. Essas redes teriam metas qualitativas e quantitativas a cumprir e seriam recompensadas de acordo com os resultados obtidos.

Cabe ao poder público - no caso, a prefeitura- a fiscalização, por meio de um órgão regulador a ela vinculado. Além de agilizar e melhorar o atendimento, as redes teriam autonomia, o que deve também facilitar a contratação de profissionais, inclusive médicos.

O novo prefeito afirma que implantará, já no primeiro ano de seu mandato, o Corujão da Saúde, para acabar com as filas de exames. Mas nossa proposta vai além.

Um bom sistema de informação, que integre toda a rede, é outro quesito fundamental. Seja por meio de cartão ou do armazenamento do histórico clínico dos pacientes em nuvem, o importante é que a iniciativa acelere consultas, tratamentos e ajude no combate ao desperdício, evitando a duplicidade de exames.

Ao contrário da tecnologia médica, que em geral encarece os custos, esse tipo de incorporação ajudará a baratear a assistência.

Há outras propostas para melhorar a saúde da maior cidade do país, como o desenvolvimento de campanhas permanentes nas escolas, a prevenção de doenças, o combate ao Aedes aegypti, o treinamento de profissionais, entre outras.

Nenhuma dessas sugestões, que a Federação de Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo entregará por escrito ao prefeito eleito, propõe a "reinvenção da roda".

Para o novo governo municipal realmente melhorar os indicadores de saúde, precisará antes de tudo quebrar paradigmas, sejam eles ideológicos ou corporativistas. João Doria tem o aval dos paulistanos para isso.

YUSSIF ALI MERE JR., médico nefrologista, é presidente da Federação e do Sindicato de Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo

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