Folha de S. Paulo


editorial

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Com a pesquisa Datafolha indicando empate técnico entre João Doria (PSDB, com 25%), Celso Russomanno (PRB, 22%) e Marta Suplicy (PMDB, 20%), o debate entre candidatos à Prefeitura de São Paulo realizado pela Folha, pelo UOL e pelo SBT nesta sexta-feira (23) teve uma característica peculiar.

É comum que, em eventos desse tipo, concentrem-se sobre um único candidato os ataques dos rivais. A derrocada do PT, partido de Fernando Haddad, sem dúvida poderia estimular os demais participantes do encontro a dirigir suas críticas ao atual prefeito.

Ocorre que o sentimento de oposição a todo o sistema lulista e a impopularidade de Haddad tornaram supérfluos esforços nesse sentido. Com 10% das intenções de voto e empatado na margem de erro com os 5% de Luiza Erundina (PSOL), o prefeito compareceu como figura secundária ao debate.

Sem foco de polarização definido, houve o agravamento de uma tendência nada estranha a esta fase das campanhas eleitorais.

Os problemas de uma cidade como São Paulo, ninguém ignora, são crônicos e múltiplos, permitindo aos candidatos —ainda mais no sistema de regras por eles próprios determinado— falar de tudo sem se aprofundar em nada.

Prometem o máximo que couber no curto tempo que lhes cabe, pouco importando se se trata de pergunta, de resposta ao concorrente ou mesmo de réplica.

Tudo é possível para os aspirantes a prefeito da maior metrópole do país: mais médicos, mais creches, mais CEUs, mais professores, mais guardas municipais, mais ar condicionado nos ônibus, mais internet, mais qualidade na educação, mais empregos, mais iluminação, mais eficiência de modo geral.

Obviamente, as contas não fecham nesse mundo imaginário em que postulantes como Marta Suplicy repetem o clichê de que "dinheiro existe", faltando apenas saber como empregá-lo, ou em que Luiza Erundina se julga convincente ao afirmar que submeterá a uma auditoria a dívida do município.

Do ponto de vista ideológico, foi possível intuir as diferenças entre a candidata do PSOL –que quer mais gestão direta do Estado e menos parcerias— e a visão privatizante, e em certos aspectos mais moderna, de João Doria.

O tucano derrapa na sua modernidade, no entanto, ao defender a volta das altas velocidades nas avenidas de São Paulo.

Tanto quanto manter um limite civilizado para os automóveis, seria o caso de imaginar uma multa para cada promessa não cumprida pelo prefeito eleito. A arrecadação do município, cujos níveis preocupam pouco os candidatos, haveria de beneficiar-se bastante.


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