Folha de S. Paulo


MAURÍCIO ADADE

O papel do setor privado na saúde pública

Em meio às eleições municipais, a saúde pública ressurge nas promessas da maioria dos candidatos. Pesquisas apontam que o tema está no topo dos problemas da população -não por acaso, ocupa espaço significativo nos debates políticos.

É amplamente aceito em todos os setores da sociedade que as melhores e mais sustentáveis soluções para problemas públicos vêm de um consenso de todas as partes interessadas. No entanto, o diálogo entre setor público e privado tem se deteriorado nos últimos anos.

O setor privado, por exemplo, desempenha um papel importante no combate à pandemia global de obesidade e a outras doenças não transmissíveis. Foi a indústria que abraçou a fortificação de alimentos básicos, como o sal no início de 1920 e a farinha de trigo no anos 1940. Hoje é possível fortificar sistemas alimentares exigentes, como o arroz, leite UHT e bebidas, e cereais de formas e tamanhos diferentes.

Mais recentemente, a indústria de alimentos respondeu ao apelo feito pela Organização Mundial da Saúde e reformulou alimentos para reduzir açúcar, sal, gorduras saturadas e ácidos graxos trans.

É preciso, contudo, definir que tipo de parceria e quais as métricas qualitativas serão necessárias. Não é suficiente apenas uma chamada ao diálogo. O resultado desejado, o papel específico e o peso de cada ator devem ser definidos de antemão.

Se a deficiência de nutrientes persiste e a obesidade está nas alturas, uma conclusão é óbvia: devemos desenvolver produtos mais nutritivos e menos calóricos.

Essa é uma missão que a indústria deve abraçar. Ao mesmo tempo, é importante que a comunicação oriente o consumidor acerca dos benefícios da alimentação saudável.

É fundamental também que o setor privado esteja atento às restrições e às ameaças ao longo do caminho entre o campo e nossa mesa. O aumento dos preços dos alimentos, o desmatamento, a falta de água, o aquecimento global, entre outros, são questões que necessitam de regras claras, sanções e incentivos acordados em parcerias público-privadas.

É obrigação do setor público fiscalizar a produção de alimentos e comunicar a verdade ao consumidor. O setor privado pode contribuir adicionalmente, propagando novos hábitos alimentares.

Definitivamente, não é papel do setor privado estabelecer políticas para uma nutrição melhor ou uma alimentação mais saudável. Isso é atribuição do setor público, com o auxílio do conhecimento científico fornecido pela academia.

No entanto, não exime a indústria de ocupar um lugar nesse diálogo, já que ela, com seus inúmeros instrumentos (tecnologia, canais de comunicação e distribuição, pesquisa aplicada), tem uma forte contribuição a oferecer.

*MAURÍCIO ADADE *, engenheiro de alimentos, é presidente da indústria química DSM para a América Latina

PARTICIPAÇÃO

Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@grupofolha.com.br.


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