Folha de S. Paulo


editorial

Incógnitas paulistanas

A pesquisa Datafolha de intenção de voto para a prefeitura paulistana, a três semanas da eleição, trouxe algumas surpresas, ainda que discretas. Merece atenção pelo cenário inédito que vai desenhando: pela primeira vez desde 1992, a chamada esquerda poderá não chegar ao provável segundo turno.

A ascensão do candidato João Doria (PSDB) foi o movimento mais significativo. Ele galgou 11 pontos percentuais na preferência dos entrevistados, passando de 5% a 16% em pouco mais de duas semanas.

Algum avanço parecia mesmo inevitável. Apadrinhado por Geraldo Alckmin (PSDB) e pela máquina do governo estadual, o tucano era desconhecido e, por isso mesmo, tinha baixo índice de rejeição; agraciado com o maior tempo de TV, era como que sua obrigação melhorar o desempenho.

A surpresa fica por conta dos 11 pontos. A progressão de Doria, terceiro colocado, vai bem além do recuo do primeiro, Celso Russomanno (PRB), que caiu de 31% para 26% —diferença equivalente à da subida de Marta Suplicy (PMDB), que foi de 16% a 21% e manteve a segunda posição na disputa.

A queda de Russomanno chama a atenção porque o líder vinha sendo poupado nos debates televisivos e na propaganda eleitoral.

Com o acirramento da competição entre os três candidatos mais bem posicionados, Marta e Doria talvez enxerguem a chance de alijar Russomanno do segundo turno e passem a ressaltar com maior afinco suas fragilidades.

Também era de prever que o prefeito Fernando Haddad (PT) enfrentasse dificuldade para deixar o patamar abaixo de 10% em que rivaliza com Luiza Erundina (PSOL).

Apesar do segundo maior lote de minutos de TV, o petista amarga o pior índice de rejeição, sem dúvida resultante dos malfeitos federais de seu partido e de uma gestão inócua diante dos problemas substantivos da capital paulista.

Há muitas incertezas a dificultar prognóstico preciso nesta eleição. De partida, a campanha encurtada e empobrecida, coincidente com Olimpíada e impeachment, mantém muitos dos votantes alheios à disputa. Não se sabe, ademais, quais seriam o teto de Doria e o piso de Russomanno.

Parcela dos votos tradicionalmente carreados para candidatos à esquerda, entre um quarto e um terço do total, vai sendo capturada por partidos ao centro e à direita, com possível vantagem para a ex-petista e ex-prefeita Marta Suplicy.

Tudo indica que ela, Russomanno e Doria convergirão numa disputa apertada pelas duas vagas na rodada final, sem espaço em vista para Haddad e Erundina. Mas ainda faltam 19 dias para a eleição —e as incógnitas são várias.

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