Folha de S. Paulo


editorial

Depois da festa

O Rio de Janeiro é uma cidade melhor após os Jogos Olímpicos. Era preciso que a mudança fosse desencadeada pela Olimpíada? Se o megaevento foi incentivo decisivo para as melhorias, qual seu custo?

A cidade conta agora com mais e melhores transportes públicos, embora se discuta a prioridade dada a certas regiões ricas. Houve bela e impressionante recuperação de áreas do centro histórico e da zona portuária. Parte das instalações olímpicas deve ter uso público.

Reformas urbanas amplas não deveriam depender de eventos raríssimos como Olimpíadas. Mas assim foi feito. Dos mais de R$ 40 bilhões despendidos, R$ 24,6 bilhões foram destinados a isso, com cerca de 43% de financiamento privado, de acordo com a prefeitura.

Se as obras foram bem dimensionadas, configuram investimento útil. As finanças municipais não foram afetadas, ao contrário. Enfim, o custo dos Jogos ficou abaixo das médias daqueles realizados noutros países desde 1960.

Cerca de R$ 9 bilhões de fontes privadas foram gastos pelo comitê organizador, dinheiro que em parte movimentou a economia local. O investimento em instalações esportivas levou outros R$ 7,1 bilhões, 40% dos quais bancados pelos governos brasileiros.

Para o público, esse foi o custo direto de realizar os Jogos. Trata-se de muito dinheiro: em 2015, todo o investimento federal não passou de R$ 61 bilhões. Ademais, o país gastou se endividando.

Caso houvesse interesse e retorno privados em tal empreendimento, essa despesa não deveria caber ao governo. Constitui, pois, mau investimento, a princípio. Parte das arenas será transformada em escolas, utilizada pelo público de outro modo ou privatizada. Difícil, pois, calcular seu retorno econômico que, na melhor das hipóteses, não será positivo.

Não estão nessas contas o aumento da despesa com incentivo ao esporte, com segurança ou, ainda, os prejuízos sociais da realocação de cerca de 70 mil pessoas afetadas pelas obras. De resto, o gasto federal em esporte não contribuiu em si para a disseminação de cultura e prática esportivas de base.

A imagem do país não saiu tão depreciada quanto antes dos Jogos, ao contrário. A Olimpíada foi bem sucedida, dadas as limitações nacionais; o Brasil parece outra vez uma terra hospitaleira e festiva.

Talvez não fosse adequado que um país de meios modestos se lançasse à realização de evento tão caro e que, em geral, resulta em perda econômica. Tendo feito tal esforço, o balanço resulta bem melhor do que o esperado.

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