Folha de S. Paulo


editorial

Trilhos particulares

De um lado, a população que depende do transporte sobre trilhos como alternativa ao trânsito infernal. De outro, uma rede metroviária deficiente e falta de recursos públicos para sua expansão.

O mero cotejo entre demanda e oferta justificaria, em princípio, a intenção do governo Geraldo Alckmin (PSDB) de ampliar as parcerias entre a Companhia do Metropolitano e a iniciativa privada.

Cogita-se leiloar a exploração de quatro das nove linhas do metrô na Grande São Paulo, além das duas já concedidas. Segundo as projeções, na próxima década estarão sob gestão privada 85 km, ou 60% da malha planejada de 142 km.

Ainda que se materialize tal cronograma —e prazos estão longe de ser o forte na administração tucana—, a meta permanece acanhada para uma área metropolitana com 21 milhões de habitantes. Na região da Cidade do México, uma população semelhante é servida —hoje— por mais de 200 km de trilhos.

A estatal encarregada do sistema paulistano não constitui exceção no quadro de penúria orçamentária do setor público nacional. Suas receitas, de cerca de R$ 2,3 bilhões em 2015, nem sequer cobriram as despesas básicas com pessoal, gerenciamento e manutenção.

Os investimentos para a expansão da rede cabem, fundamentalmente, ao governo estadual, com eventual contribuição da prefeitura. Tais fontes tampouco são promissoras: em 2015, o montante destinado às obras caiu para R$ 3,2 bilhões, ante R$ 3,9 bilhões em 2014.

Nesse cenário, a participação do setor privado, por bem-vinda que seja, não será panaceia. Dadas as restrições de rentabilidade no ramo, dificilmente os concessionários poderão arcar com as despesas integrais dos empreendimentos.

Na parceria da linha 4-amarela, já em operação, o governo teve de assumir 73% dos gastos, e dez anos após a assinatura do contrato as obras restantes seguem em ritmo claudicante. A linha 6-laranja, licitada em 2013, só ficará pronta, na melhor hipótese, em 2020.

O ingresso do capital privado pode, sim, concorrer para aliviar custos com pessoal e expansão do sistema, com vistas a melhorar o atendimento aos usuários. Tratando-se de atividade que não segue a pura lógica de mercado, porém, não se pode prescindir do saneamento das contas do poder público para que este retome sua capacidade de investimento.

editoriais@grupofolha.com.br


Endereço da página:

Links no texto: