Folha de S. Paulo


editorial

Catástrofe humana

As águas do Mediterrâneo foram o cenário de mais uma tragédia na semana passada. Pelo menos 700 pessoas que zarparam do norte da África morreram na tentativa de chegar à Itália. A Organização Internacional para a Migração fala em mais de mil afogados.

O desastre, o pior desde abril de 2015, expõe os horrores da crise de refugiados e o desespero de quem se arrisca em perigosas travessias, utilizando embarcações precárias e superlotadas. Já são mais de 2.000 mortos no mar Mediterrâneo neste ano (em 2015, no total, foram aproximadamente 3.700).

A tragédia evidencia, ademais, a dificuldade para desbaratar a rede de contrabandistas que atua na região. Apesar do aumento das patrulhas e das ações de inteligência, manteve-se inalterado o fluxo de migrantes entre a Líbia e a Itália. Cerca de 45 mil pessoas chegaram à Europa neste ano por essa rota, praticamente o mesmo número dos cinco primeiros meses de 2015.

Após uma pausa durante o inverno, a onda migratória teve novo impulso com a chegada da primavera no hemisfério Norte. A semana passada foi uma das mais movimentadas no Mediterrâneo em 2016, com cerca de 15 mil pessoas resgatadas pelas autoridades.

Quase todos partem de países africanos como Eritreia, Nigéria, Somália e Sudão do Sul, locais marcados por problemas —ditaduras, guerras, terrorismo e fome— antigos e de penosa solução.

Tendem a se juntar a esse contingente sírios, afegãos e iraquianos, agora que o acordo entre União Europeia e Turquia praticamente bloqueou a rota entre este país e a Grécia, utilizada por eles. Uma medida, aliás, com potencial para aumentar as tragédias marítimas, já que a travessia até a Itália é mais longa e arriscada que a do mar Egeu.

Diante desse quadro, é inaceitável que a comunidade internacional prossiga negligenciando o problema dos refugiados e a busca por meios que possam mitigá-lo.

Exemplo disso foi dado também na última semana, na primeira Cúpula Mundial Humanitária, realizada sob os auspícios da ONU.

Numa reunião esvaziada de líderes —entre os membros do G-7, apenas a chanceler alemã compareceu—, os participantes fizeram pouco mais que reafirmar a importância da política na prevenção e resolução de conflitos e a necessidade de respeitar convenções e tratados internacionais.

Oferecer uma resposta à altura da crise humanitária é sem dúvida desafio imenso e complexo, mas os pífios resultados da cúpula da ONU demonstram que falta até disposição de perseguir esse objetivo.

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