Folha de S. Paulo


editorial

Perda em dobro

A menos de um mês do plebiscito que decidirá se o Reino Unido permanece ou sai da União Europeia, as pesquisas indicam uma forte divisão entre os britânicos. Segundo o levantamento mais recente, 44% apoiam a manutenção do país no bloco, ao passo que 40% advogam pela saída.

Trata-se de uma escolha das mais importantes, com profundas implicações tanto para o Reino Unido como para a União Europeia.

Os defensores do "brexit" -neologismo formado pela junção das palavras "Britain" e "exit"- sustentam que a ligação com o bloco europeu impõe ao Reino Unido obrigações e amarras regulatórias que estariam sufocando o crescimento do país. Acrescentam que a recuperação da soberania ampliaria oportunidades de exportação.

Tais argumentos, no entanto, encontram pouco respaldo fora das fileiras eurocéticas. Nos últimos meses, estudos independentes e entidades como o FMI, a OCDE e até o Banco da Inglaterra (banco central do país) têm refutado o discurso em prol da saída e alertado para os riscos que ela acarreta.

Pesquisa recente concluiu, por exemplo, que não foram poucos os benefícios que o Reino Unido obteve dentro da UE. Seu comércio com os demais membros do bloco é hoje 55% maior do que seria esperado se estivesse em carreira solo.

Atualmente, a UE é de longe o maior parceiro comercial dos britânicos, sendo o destino de cerca de metade das suas exportações.

Se optar pela saída, o Reino Unido perderá o acesso privilegiado ao mercado único europeu. Isso dificilmente seria compensando pela relação com outros países. É improvável que, sozinhos, os britânicos tenham mais poder de barganhar acordos com China, Índia ou EUA.

A defecção abriria, ademais, um período de incertezas que prejudicaria a economia do país e dificultaria a captação de crédito. Pelo ineditismo, não se sabe como se dariam as negociações para a saída nem o que o restante da Europa ofereceria, tampouco quanto tempo durariam as tratativas ou quais seriam os seus resultados.

O "brexit" também representaria duro golpe para o projeto de integração europeu, já abalado pela explosão da dívida grega e seus impactos sobre o euro e pela crise de refugiados. Tudo somado, é quase forçoso concluir que uma vitória dos eurocéticos, além de improvável, não trará ganhos a ninguém. Ao contrário, deixará Reino Unido e União Europeia mais fracos.

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