Folha de S. Paulo


ROGERIO CHEQUER

Carta aberta ao presidente Temer

Senhor presidente Temer,

O Brasil está prestes a assistir a um momento histórico: o afastamento da presidente da República. Mais importante ainda, um afastamento originado e motivado pela sociedade civil brasileira.
Há 24 anos, a ideia do impeachment de Fernando Collor nasceu numa reunião de políticos e foi depois encampada com euforia pelos "caras pintadas", cheios de esperança.

De lá para cá, pouco mudou. Dez anos depois, a República foi tomada por um grupo com um plano maquiavélico, ilegal e egoísta.

Após a revelação do mensalão, mesmo com o esforço corajoso de alguns juízes e de provas inequívocas de como o poder era tratado por Lula, pouco aconteceu além de alguns empresários e políticos presos.

A sociedade comemorou em casa. O impeachment de Collor e o mensalão não foram capazes de mudar o Brasil.

Agora, sr. presidente, na iminência de sua posse, temos uma nova chance. E essa chance vem de um processo bem diverso do de 1992.

Um relatório técnico, elaborado pelo TCU (Tribunal de Contas da União), escancarou uma tenebrosa face da prática política do governo Dilma. Entretanto, desta vez, indignado pelas descobertas da Operação Lava Jato, o povo decidiu tomar o destino em suas mãos e exigir justiça.

Milhões de pessoas foram às ruas de forma pacífica, ordeira e constitucional, no que se configurou como as maiores manifestações sociais da história do Brasil.

Aos poucos, um pequeno grupo de parlamentares, que se alinhara com a população desde o início, ganhou corpo e cresceu até atingir a significativa maioria do Congresso. Essa maioria, por fim, implementou a vontade das ruas no Parlamento.

Foi assim, sr. presidente, que chegamos à sua posse. Desta vez, não podemos falhar. Já sabemos as consequências. Aprendemos que um mandato de dois anos pode fazer diferença, mas pode não ser suficiente. É imperativo que o novo governo trate não apenas da economia, mas de decência, ética, representatividade e gestão pública eficiente.

O movimento Vem Pra Rua teve o privilégio de atuar com protagonismo neste processo. Nasceu com objetivos de médio e longo prazo, dentre os quais o afastamento da presidente e do estilo lulopetista de governar. Diante da iminência desse fato histórico, é crucial que tanto o senhor como a população saibam o que esperamos de sua administração e pelo que lutaremos.

O fim da impunidade e o combate sistemático à corrupção são demandas inegociáveis. Elas incluem um posicionamento político inequívoco a favor da aprovação das dez medidas contra corrupção apresentadas pelo Ministério Público Federal e endossadas pela população brasileira, a serem aprovadas pelo Congresso Nacional.

Além disso, é fundamental o apoio irrestrito à Operação Lava Jato e a outras da mesma natureza.

No campo político, são urgentes medidas de aumento de representatividade. Voto distrital misto e recall são instrumentos fundamentais para o bom funcionamento da nossa democracia. O fim da reeleição e das coligações partidárias fecham o quadro necessário para iniciarmos um processo de renovação.

No campo administrativo, demandamos eficiência e transparência da gestão pública. A redução imediata e significativa da máquina administrativa federal e a diminuição radical do número de ministérios e de cargos comissionados constituem um primeiro passo. Não toleraremos fisiologismos.

Senhor presidente, o povo foi às ruas por mudanças e conta com seu comprometimento e sua coragem para implementá-las. A reconstrução da nação terá de considerar necessariamente o que se ouviu em uníssono nas ruas do Brasil.

ROGERIO CHEQUER, 47, é empresário, líder e porta-voz do movimento Vem Pra Rua

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