Folha de S. Paulo


Sinval de Itacarambi Leão

Grito pela liberdade

No Brasil, falar em liberdade de imprensa nunca pareceu tão importante. Em tempo de crise política, econômica e institucional, em que a polarização atingiu quase todas as esferas, o papel da mídia e do jornalista é cada vez mais questionado: cada lado da moeda vê na cobertura da imprensa tradicional tendências para uma ou outra face.

Mais do que isso, a disseminação de boatos como notícias, amplificada à enésima potência pelas redes sociais, faz com que piore, e muito, a imagem dos veículos perante o consumidor da notícia.

Você pode perguntar: mas o que isso tem a ver com a liberdade de imprensa? A resposta é simples: uma mídia desacreditada perde sua força e legitimidade.
A credibilidade é o bem maior de um jornalista ou veículo de comunicação e, quando é alvo de questionamentos em sua essência, o prejuízo é imensurável: impacta nas vendas, nas assinaturas, no
interesse público, no apoio anunciante.

E, ao contrário do que a era da internet prega, é muito caro produzir notícias de qualidade. Quanto mais uma mídia se esmera na qualidade de sua produção, mais cara ela se torna. E esse valor há de vir de algum lugar, ou seja, vendas em bancas, assinaturas e anúncios.

Recentemente, a ONG Repórteres sem Fronteiras publicou seu levantamento referente ao ano de 2016 sobre o tema "liberdade de imprensa no mundo". O Brasil, na posição 104 entre 180 países, aparece como uma nação que tem "problemas" nesta questão. Pudera. Vista como ameaça pelo meio político, já que é por ela que grandes escândalos são levados a público, a imprensa brasileira sofre as reações de gregos e baianos.

Repórteres são hostilizados quando estão em campo, veículos são depredados e os homens públicos, em vez de mostrar a importância de uma imprensa livre e valorizar os múltiplos olhares, insistem em insuflar seus correligionários contra quem não publica somente o que lhes é favorável.

E isso não é exclusividade apenas dos políticos. Hoje em dia, desacreditar e demonizar a imprensa parece ser um desafio, e, em alguns casos, até um passatempo.

Nesse contexto, o assédio jurídico ganha contornos fortes e bem traçados. Jornalistas e seus empregadores são acossados por vias judiciais com processos por danos morais em série. Os envolvidos em casos de corrupção procuram esconder seus delitos por meio do dispositivo de segredo de Justiça, buscando evitar que cada caso chegue a conhecimento público.

Entramos aí na grande questão atual: qual o limite ético do jornalista quando tem acesso a informações protegidas pelo segredo de Justiça? As delações premiadas, tão populares atualmente, devem ser divulgadas? Como medir, classificar o que é, de fato, de interesse público e o que, simplesmente, atende ao fervor dos envolvidos?

Nesta terça (3) celebra-se o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Trata-se de uma profissão que deve sempre estar no centro do debate, já que não se faz jornalismo sem se adequar às mudanças da sociedade. É necessário estar totalmente afinado com os acontecimentos para se fazer jornalismo.

A excelência exige muita discussão, muito pó na sola dos sapatos e muita liberdade para se chegar a tudo isso. E é dessa liberdade que não se pode abrir mão.

SINVAL DE ITACARAMBI LEÃO, jornalista, é fundador e diretor da revista e portal "Imprensa"

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