Folha de S. Paulo


JORGE ABRAHÃO, CELINA CARPI e FRANKLIN L. FEDER

Por um "pluriálogo" nacional

Só pelo "pluriálogo" construtivo conseguiremos transformar o Brasil em um país melhor.

Não por monólogos ou embates, mas pela busca de entendimento, por meio de diálogos múltiplos e plurais, que deságuem em compromissos. Só assim poderemos sair da crise que sofremos há quase dois anos.

Todos os segmentos da sociedade devem ser chamados a participar. A construção de um amanhã melhor, não o ganho imediato, deve ser a meta. Para tanto, é essencial que todos assumam e cumpram os compromissos estabelecidos.

Como os planos acordados só serão alcançados por mediação, a vitória total não deve ser a meta dos grupos. Eles precisam estar dispostos também a ceder algum espaço, quando isso significar o fortalecimento da nação.

Há quase 20 anos o Instituto Ethos e seus parceiros vêm promovendo valores fundamentais para se construir um Brasil melhor, com base na integridade pessoal e empresarial, no respeito aos direitos humanos, na defesa da democracia, da liberdade de expressão e da saúde do planeta.

Por isso, neste importante momento, propomos o "pluriálogo" nacional, a soma de todos, como única saída construtiva para a amarga realidade que hoje nos divide.

Fácil não será. Tampouco impossível. Nestes últimos anos, conseguimos articular consensos complexos, como o Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção, o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo e Trabalho Infantil, a cartilha Responsabilidade Social das Empresas no Processo Eleitoral e um posicionamento em face do financiamento de partidos políticos, visando a redução da influência do poder econômico nas eleições.

Longe estamos de nos oferecer como os únicos ou os principais articuladores de um "pluriálogo", mas nossa bem-sucedida experiência nos faz crer que podemos contribuir para o bom resultado almejado.

Acreditamos que há espaço para iniciarmos este "pluriálogo" com diferentes segmentos da sociedade -empresas, trabalhadores, sociedade civil e academia, entre outros-, de tal forma que possamos apontar diretrizes que sintetizem o interesse de todo o país.

Nesse espírito, somente como provocação inicial, trazemos à mesa três temas que poderiam fazer parte dessa construção.

Em primeiro lugar, devemos buscar o aprimoramento do sistema político e eleitoral, pois a crise revela amplo questionamento da sociedade sobre as representações institucionais. Fortalecer a democracia exige uma reforma política que promova um sistema eleitoral mais justo, reduzindo a interferência do poder econômico.

A seguir, a criação de um Plano Nacional de Integridade, que contribua para o aperfeiçoamento da relação público-privada, estabelecendo confiança entre a sociedade civil e o poder público.

Finalmente, nosso "pluriálogo" deveria visar o desenvolvimento econômico com sustentabilidade, voltado, sobretudo, para geração de empregos, inclusão social e transição para economia de baixo carbono.

Há importantes segmentos de nossa sociedade desejosos, como nós, por vislumbrar a possibilidade de alternativas que apontem para os efetivos interesses do país. O "pluriálogo" é uma tentativa de recuperar a esperança e, quem sabe, retomar a trilha de redenção para o Brasil.

JORGE ABRAHÃO é presidente do Instituto Ethos, organização que mobiliza as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável

CELINA CARPI é presidente do conselho deliberativo do Instituto Ethos

FRANKLIN L. FEDER é vice-presidente do conselho deliberativo do Instituto Ethos

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