Folha de S. Paulo


Alfredo Passos

Hora da indústria de São Paulo agir

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acaba de publicar estudo em que mostra que a indústria do Estado de São Paulo produziu 11% menos em 2015 em relação ao ano anterior, fato este, que registra seu pior desempenho na atual série histórica da pesquisa iniciada pelo instituto em 2003.

Em reportagem publicada na Folha (5/2/2016), foram destacados que o volume de produção industrial regrediu aos níveis de setembro de 2003, que o resultado foi também pior que a queda da produção industrial brasileira de 8,3% em 2015.

Como o restante do país, o parque fabril de São Paulo, sofreu ao longo do ano com a menor demanda por seus produtos e estoques elevados, o que resultou em corte de produção, férias coletivas e demissões de funcionários. Além de São Paulo, houve queda na produção em 12 dos 15 locais pesquisados pelo IBGE no ano passado.

E ainda, os cortes na produção foram disseminados e ocorreram em todos os 18 ramos da indústria acompanhadas pelo IBGE no Estado de São Paulo.

Mas o que fez a indústria neste período? Pouco ou quase nada, além das tradicionais, reduções de custos. Acostumados aos períodos de "vacas gordas", os industriais de São Paulo e do Brasil, sempre fazem as mesmas coisas nos períodos de crises, cortam os custos, férias coletivas e demissões de funcionários.

Existem alternativas? Sim existem. Enquanto outros países e empresas foram construindo alternativas através da pesquisa e desenvolvimento, e por consequência da implantação de processos de inovação e assim produzindo produtos mais baratos e adequados a população de seus respectivos países, os industriais brasileiros se tornaram "importadores", "reclamões", "zangões", "vítimas", de suas próprias escolhas de não fazer nada, para construir alternativas possíveis para oferecer alternativas para sair da crise.

Desde os anos 2000, o Brasil conta com profissionais de inteligência competitiva, capazes de oferecer o que há de melhor para aparelhar as empresas com competência e habilidade para fazê-las se diferenciar não só da concorrência, mas com possibilidades de pesquisa e desenvolvimento.

Isso é possível uma vez que dentre os milhares de profissionais hoje formados no Brasil, com especializações no exterior, existem muitos mestres e doutores que podem colaborar com as melhores decisões para minimizar riscos para as indústrias diante das maiores complexidades que estas possam enfrentar.

Porém, "nossos industriais", ainda estão no tempo, de "O Quinze" de Rachel de Queiroz, escrito em 1930, que aborda a luta de um povo contra a miséria e a seca. Em nosso caso, lutamos contra a indústria "chinesa" e o "baixo salário".

"Nossos industriais", convidam especialistas internacionais da maior expressão, mas ouvem suas orientações "por um ouvido e deixam escapar pelo outro".

Exemplo é o que aconteceu com John Kao, um dos maiores especialistas em inovação e criatividade, convidado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) e Sebrae. Kao, que veio ao Brasil para o 6° Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, em maio 2015, falou uma série de questões muito importante para serem aplicadas. Mas, nunca foram aplicadas, tão pouco discutidas pelas entidades que o convidaram para o congresso.

Assim, como CNI e Sebrae, a principal federação do Estado, também tem um presidente que reclama muito do governo e agora, aderiu ao "impeachment" da presidente da República.

Mas na prática, em vez de fazer "o bloco do Pato", que tal agir e fazer ações mais objetivas e com foco, para indústria, reagir e crescer do que ficar apenas fazendo "micaretas", e as mesmas ações de cortes, férias e demissões que já se mostraram ineficientes para as indústrias? Que tal mudar? O mundo mudou! Só "os nossos industriais", ainda não perceberam! Por incrível que isso possa parecer.

ALFREDO PASSOS é especialista em Inteligência competitiva, professor de administração da Faculdade Oswaldo Cruz e membro da Strategic and Competitive Intelligence Professionals - SCIP

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